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GERAÇÃO 2015

Proyectos de arte Fundación Montemadrid

Elena Aitzkoa, Cristina Garrido, Karlos Gil, Laila y Nadia Hotait, Daniel Jacoby, Fermín Jiménez Landa, Karlos Martinez B., Lucía Simón, Pep Vidal e Oriol Vilanova

Curadoria Ignacio Cabrero

Como vem sendo habitual a Plataforma Revólver apresenta a proposta de arte contemporânea no contexto da programação da Mostra Espanha em Portugal.
Gerações é uma competição que premeia e apresenta a criação contemporânea de Espanha desde o ano 2000. A exposição Geração 2015 é formada por obras inéditas e produzidas para a ocasião dos dez jovens artistas selecionados por um júri de reconhecido prestígio. A exposição foi primeiro apresentada na La Casa Encendida em Madrid.
Victor Pinto da Fonseca

Viajar, deambular… perder o norte

– Ignacio Cabrero

Caminhar sem rumo, perder-se e deixar que a sorte ou as ruas da cidade te guiem. Ser como o flâneur descrito por Walter Benjamin nas suas Passagens, essse homem para quem andar pelas ruas sem direção fixa ou necessidade é a actividade mais genuina da vida, uma actividade que converte o espaço público da rua no que para o burguês é o espaço privado. Fazer do espaço público um labirinto em que deambulamos como pensavam os situacionistas. La dérive e o détournement propostos pelo pensador Gui Debord, que aponta para uma nova ideia de viagem através de esse espaço labirintico de desorientação, com um duplo sentido: a desorientação que se persegue conscientemente, mas também a noção do labirinto como estrutura de organização mental e método de criação. Vagabundos e erros, trajectos e caminhos sem saída.

O passeio como manipulação artística como inspiração literária-filosófica não é nada de novo. No campo da filosofia, autores como Rousseau com os seus Sonhos de um passeante solitario, e Henry Thoreau com Caminhar; ou, desde a literatura do século XIX, as reflexões sobre deambular pelas ruas da cidade pela mão de, por exemplo, Poe com O homen da multidão, ou a aparição desse flâneur anteriormente mencionado, associado à modernidade. Depois Kafka com O passeio repentino ou esse escritor passeante, Robert Walser, com O Passeio.

Os surrealistas , os dadaístas e especialmente os situacionistas experimentaram com o passeio diferentes percursos por periferias e lugares. Tema também presente nos anos sessenta e setenta, com as peregrinações pelos nâo lugares na América profunda levadas a cabo por Richard Long ou Robert Smithson – Hotel Palenque, Os monumentos de Passaic.
A ação de viajar supõe uma experiencia de procura, de encontro inclusivamente perdido. Num sentido amplo, a viagem realiza-se não só caminhando pela cidade, mas também pelo corredor de nossa casa. É o viajante interior, que refere Pessoa na sua Viagem.

Caminhar para não se cair, porque quiçá, o facto de caminhar é, em si mesmo, “uma queda controlada” – como menciona Manuela Moscoso no seu texto sobre Jiménez Landa aludindo ao ditado inglês Walking is controlled falling. Caminhar para desafiar a gravidade e evitar a queda, com o objectivo de encontrar um caminho mais adiante. Trajectos, ações e viagens que sempre estiveram presentes na história da arte como parte do processo existencial do criador. Nesta edição de Gerações, a ideia de viajar, deambular, passear e perder-se, para voltar ou não a encontrar-se, parece algo comum entre os artistas e, de alguma maneira, conecta os projectos seleccionados.
Assim, na sua trajectória e maneira de abordar os projectos, os artistas estão em contínuo movimento.

Publicado a 12 de Novembro de 2015