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Arquitetos da Subtileza

Todos colaboramos para levar a cabo uma só obra, uns com conhecimento de causa e inteligentemente, outros sem o saberem.
Marco Aurélio

O Imperador Marco Aurélio, com o seu livro intitulado “Pensamentos” convida-nos a olhar para esta exposição como algo maior que o tempo, a morte, o sagrado ou o profano, porque todos estes temas são e sempre foram os interesses Universais da Arte.

Porém, e ao contrário do que possa parecer, a literatura e os pensamentos do Imperador Marco Aurélio não pretendem delimitar algum tipo de ideia nesta exposição. Muito pelo contrário, são estes pensamentos, com a sua profundidade estoica, que nos ligam a uma contemporaneidade rica e cheia de vitalidade, inspirando e proporcionando a realização de obras com uma radicalidade e capacidade próprias de refletir sobre o tempo e a morte, o sagrado e o profano, pois é nestas profundas contradições, tão presentes neste início de século, que continuamos a observar os interesses universais da arte.

Os sete artistas desafiados a criar novas peças ou a escolher, juntamente com o Curador, obras de arte da sua autoria, a partir da leitura do livro “Pensamentos”, revelaram, acima de tudo, a particularidade de cada um, tanto na sua forma de olhar para uma mesma realidade como na sua reinterpretação, enquanto processo transformador. Uma dessas reinterpretações pode ser descoberta nas esculturas da artista Ana Fonseca; o seu trabalho mostra-nos como a ausência do eu e, simultaneamente, a sua presença tão peculiar, nos deve fazer atuar de maneira a que uma busca pelo passado clássico possa conduzir-nos a um barroco tão realista quão quotidiano. E é nessa confiança entre o moderno e o presente, nessa fronteira entre o divino e o humano, que o mundo clássico vai lentamente desaparecendo e as arquiteturas romanas se vão unindo às torres medievais para dar lugar à modernidade, aqui representada tanto através da captação prodigiosa da realidade nas fotos de Orlando Franco como nas intervenções magistrais de Susana Anágua, que a partir de arquiteturas industriais, da beleza das águas, dos bosques, das montanhas, ou da claridade do céu, cria uma leitura nova para a mais famosa estátua equestre do mundo, a alma mater de todas as estátuas equestres: a natureza do paraíso inicial da escultura transformado numa terra queimada, povoada pela industrialização. Porque a Arte é um devir contínuo. A fotografia nasceu como apelo ao desafio do tempo, pelo que, de início, não era senão a tentativa de materializar o momento, fixando-o para sempre numa imagem. Contudo, a luz altera, os objetos desgastam-se, os elementos de uma paisagem vão-se transformando, os componentes de uma natureza morta vão-se deteriorando; os retratados envelhecem. Ou seja, tudo muda, conforme já nos dizia Heraclito, através da parábola de que ninguém se banha duas vezes nas águas do mesmo rio. O invento da fotografia consistia em preservar instantes de uma sequência temporal para poder revisitá-los num futuro próximo ou mais longínquo. José Luís Neto procura/encontra/revela deformações no objeto fotográfico, criando com ele novos paradigmas, novas noções da fotografia, novas abordagens das imagens, como que a remeter-nos a um outro pensamento de Marco Aurélio: “… todos esses objectos de vez vão ser transformados num abrir e fechar de olhos pela natureza que governa o todo. Da sua substância fará outros objectos, depois da substância destes outros ainda, para que o mundo seja jovem…(Livro VII – 25)”.

Não há metáfora mais clara e universal do que a fragilidade do corpo humano e o seu inexorável destino que são a ruina e a morte. Nos desenhos apresentados nesta exposição, a procura de uma beleza efémera, ainda que inefável, é um percurso que se observa nos trajetos e trabalhos das artistas Teresa Gonçalves Lobo e Conceição Abreu, quer através de movimentos elípticos no papel, quer na procura de uma ordenação, ainda que não consciente; ambas as artistas tentam transportar-nos para Universos que vão sendo construídos/destruídos/substituídos dentro de folhas brancas que se transfiguram incessantemente. Linhas claras e volumes vão mudando em espaços dissonantes, como o próprio espaço ocupado pelo homem ou como as paisagens mutantes conquistadas pelo Imperador e que o próprio Império olhava como apenas pontos em mapas, mapas esses trazidos no seu devir artístico mas vazios. Vazios de seres humanos e das suas ações, vazios de animais, aves. O conjunto apresentado pelo artista Jorge dos Reis evoca-nos essas paisagens onde novos elementos se vão substituindo a toda a vida aí existente. O autor vai moldar a disposição da imagem, do texto, das cidades, dos muros e vai criar um papel subvertido e subversivo na ausência do eu, vai criar um novo mundo e vai transformar-se num novo “Imperador da criação”.

Espero que com esta exposição, os skylines imaginários que emergem dos trabalhos aqui apresentados possam fazer com que os perfis de todos e de cada um permitam contrastar com o leque de oportunidades inspiradas pelos pensamentos do filósofo Marco Aurélio.
O grande desafio que deixaria a todos os visitantes é que se permitam, de alguma forma, ser tocados pela criatividade entre a antiguidade e a contemporaneidade, porque foi essa a ideia que me levou a trabalhar com estes sete Mestres do saber imaginar; gostava que estes processos mentais de renovação e reunificação da arte fossem cenário da nossa vida, inseparáveis da nossa experiência, numa nova sociedade do seculo XXI, funcional e emocional, entre a estrutura do ver e a vivência da Arte como a beleza e a ruina.
E termino com as sábias palavras do autor que inspirou esta exposição: ” Se os objectos que te perturbam, porque os buscas ou evitas, não vêm ao teu encontro, mas, pelo contrário, em certo sentido, és tu que vais ao encontro deles, ajuíza deles com paz e sossego: eles estarão quietos se tu os não procurares nem evitares…(livro XI, 11)”.

António Pedro Mendes
Olissipo, Maius XXXI, MMXIII

Publicado a 7 de Junho de 2013

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The Age of Divinity

Johanna Billing, Eric Corne, José Drummond, Jan Fabre, Raquel Melgue, Catarina Mil-Homens, João Onofre, Raúl Perez, Ana Rito, Ernesto de Sousa, Pedro Vaz, Liao Chi-Yu, Hugo Barata
Uma proposta de Hugo Barata

Exposição produzida por Balaclava Noir: consultoria técnica artes visuais e Plataforma Revólver

«En aquel tiempo, el mundo de los espejos y el mundo de los hombres no estaban, como ahora, incomunicados. Eran, además, muy diversos; no coincidían ni los seres ni los colores ni las formas. Ambos reinos, el especular y el humano, vivían en paz; se entraba y se salía por los espejos.
Una noche, la gente del espejo invadió la Tierra. Su fuerza era grande, pero al cabo de sangrientas batallas las artes mágicas del Emperador Amarillo prevalecieron. Éste rechazó a los invasores, los encarceló en los espejos y les impuso la tarea de repetir, como en una especie de sueño, todos los actos de los hombres. Los privó de su fuerza y de su figura y los redujo a simples reflejos serviles. Un día, sin embargo, sacudirán ese letargo mágico.»

Jorge Luís Borges, “Animales de los espejos”,
in Libro de los seres imaginarios.

Esta jornada poderia ser encarada como o início de uma estória, um relato ténue daquilo que se poderia apelidar de imaginação manifesta. É uma jornada acerca da nossa condição de seres imaginantes, entidades não governadas por normas da ciência, da razão ou da verdade, mas antes governadas pelo tributo dos sonhos e dos pesadelos na configuração de uma expressão do mundo. No conto de Jorge Luís Borges descreve-se um tempo no qual as criaturas que viviam nos espelhos, ao apoderar-se do espaço terreno que era pertença do ser humano, são novamente aprisionadas e condenadas eternamente a mimetizar e a refletir a imagem do mundo “real”. Nesta obra do escritor argentino, baseada no mito chinês do Imperador Amarelo e da fauna existente nos espelhos como universo alternativo, somos confrontados com a ideia de “seres” irrequietos – imagens desobedientes – que se transportaram para a nossa realidade para aí iniciarem a destruição e o caos. Dir-nos-á a história das crenças que, graças a um poderoso feitiço do Imperador Huang Di, os entes foram controlados e derrotados. A estória que se deseja contar cresce da reflexão em torno da relação “real” ? “imaginário”, imagem e reflexo. Ambos os conceitos são considerados como momentos que se nos impõem e que, através da arte, se cruzam ou trocam de lugar, produzindo sombras, aterrorizando padrões de representação, razão ou verdade, fundindo ou deformando relações simbólicas que esperaríamos estáveis. Assim sendo, observe-se o artista como aquele que lança falsificações para a “realidade real” e também, vice-versa, aquele que aprisiona essa mesma “realidade” nas representações e nos objetos que cria. A noção de parergon, exposta por Jacques Derrida1 como o espaço entre – o dentro e fora simultâneos – institui interpretações de simultaneidade, ambiguidade, permeabilidade e contaminação. O artista enquanto pecador demiúrgico, ilusionista e falsificador, xamã e feiticeiro, é consciente da força das imagens que criou durante milénios (e de outras que renovou, substituiu ou raptou) e da sua eterna função em fazê-las coincidir com a imago da divindade. Na sua obra Hyperion oder Der Eremit in Griechenland (Hipérion ou o eremita da Grécia, 17972), Hölderlin apresenta, num formato estruturado por cartas, a nostalgia relativamente aos dramas seculares exaltando a natureza divina, sublinhando um conjunto de forças invisíveis, conflitos, ideais de beleza e de esperança. A noção que temos ao ler algumas das suas passagens, noção essa perfeitamente ilustrada pela luta da independência grega, é a de que, agora, trata-se antes de saber falar com os deuses, estar verdadeiramente ao seu nível («O primeiro filho da beleza humana, divina, é a arte. Nela o homem divino rejuvenesce», Hipérion). O que significa que homem e deuses estão juntos, nenhum se suplanta ao outro, não existe desafio possível. Heidegger, intérprete de Hölderlin, afirma em jeito de epígrafe na sua obra completa3 «Wege – nicht Werke!», «caminhos – não obras!», intitulação que apresentará em torno de vários dos seus escritos, por exemplo Marcas do caminho (1935-1946) ou A caminho da linguagem (1950-1959). Na sua conferência Hölderlin e a essência da poesia (1936), Heidegger induz uma aproximação da poesia a uma compreensão quasi-instrumental, tendo na palavra poética uma espécie de excelência da palavra em si mesma, do rigor de sentido, a partir do qual a nomeação poética consagra um resvalamento do ordinário para o transfigurado, para o extraordinário (Paul Valéry acerca de Mallarmé afirmará mesmo que a poesia se veicula a um estado anterior à escrita e à própria crítica). Não poderemos, contudo, assegurar que o poeta ou o artista visual – como aqui pretendemos – domina a natureza apenas pelo facto de a nomear ou que a determina através de uma sua representação, mas que tal nomeação é uma escuta sensível a partir da subjetividade criativa, desembocando nos “caminhos da linguagem”, ou seja, nas múltiplas bifurcações de que nos fala Borges. Poder-se-ia também afirmar que em Borges se encontra aquilo que Paul Virilio salientou como a “inutilidade” dos mapas, das referências, da cartografia, diríamos por assim dizer, da representação. Algumas das linhas de Borges também perscrutam a crença utópica de Virilio na qual, num futuro possível poderíamos encarar esta possibilidade da “inutilidade”, de forma a afastarmo-nos da obsessão com a metafísica e com o virtual (virtual aqui entendido como algo que não se encontra aqui e agora), caminhando na senda de valorizar e testemunhar, antes, a realidade na sua imediaticidade. Ora, como se viu em autores como Kant, Heidegger ou Zizek, é ao homem impossível obter uma experiência direta dessa mesma realidade por existir sempre uma distância ínfima entre a nossa compreensão do mundo e a experiência de estar no mundo. Aquilo que a história de Borges ilustra (e que se pode reler a partir de Virilio) é que a distância entre a apreensão cognitiva da realidade (mundo) e a realidade ela mesma foi algo trabalhado pela modernidade e pela pós-modernidade como uma espécie de “desertificação do mundo” (por exemplo descrita por Zizek em Bem-vindo ao deserto do real)4. Passemos então através do espelho e, aí, encaremos o ponto de vista que não reflete, mas que deixa ver através. O que nos chegará primeiro enquanto criaturas que olham: o espelho ou aquilo que vemos nele refletido? Talvez como no conto de Borges, estes “entes-reflexos” possam
agora reemergir do “ecrã-espelho” como verdadeiras presenças. Assim sendo, e a partir da poesia como pretexto, a exposição THE AGE OF DIVINITY é uma leitura aberta que procura desapontar a esperança de um qualquer literalismo, e que solicitou a cada artista a apresentação de uma obra que envolvesse e que explorasse alguns dos devaneios descritos anteriormente.
Hugo Barata, Lisboa, novembro de 2012

1DERRIDA, Jacques, The truth in painting. Chicago: University of Chicago Press, 1987, p.9.
2Cf. HÖLDERLIN, Johann Christian Friedrich, Hipérion ou o eremita na Grécia. Lisboa: Assírio&Alvim, 1997.
3Cf. HEIDEGGER, Martin, Gesamtausgabe. Frankfurt : Vittorio Klostermann, 1975.
4 C.f. ZIZEK, Slavoj, Bem vindo ao deserto do real. Lisboa: Relógio de Água, 2002.

Programação paralela:

16.03.2013, Sábado, 16h30
Visita orientada com o curador Hugo Barata
ENTRADA LIVRE

06.04.2013, Sábado
Jorge Luís Borges – Atlas, por José A. Bragança de Miranda
Apresentado por: Hugo Barata

13.04.2013, Sábado
Autonomia do Ver: espelhamento e visão com vontade própria, por Carlos Vidal
Apresentado por: Hugo Barata

Publicado a 8 de Março de 2013

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LES DAMES CHINOISES#3
Diana Seeholzer, Eva Chytilek, Patrick Steffen, Sandra Gil
Uma proposta de Victor Pinto da Fonseca
07 março – 24 abril 2013

Este título, referência direta a um jogo de estratégia, nasce do encontro entre quatro artistas numa residência na Cité Internationale des Arts em Paris, em 2011.
Os momentos de partilha, de construcão e de reflexão, neste contexto particular e único da CIA, conseguido pela presença simultanea de diversas culturas, de personalidades, de campos de criação e de vontades, conduziu os artistas a novas problemáticas e novas propostas de investigação. Esta exposição alimentada pelo diálogo entre as obras, os artistas e o espaço de exposição, é um projeto colaborativo, que já foi apresentado em Basel, na Suíça, e em Viena, na Áustria e que agora se encerra, num terceiro e último capítulo, em Lisboa, no piso 2 da Plataforma Revólver.

Entrada livre. Visitas por marcação. De quarta a sábado das 14:00 às 19:00.

Publicado a 8 de Março de 2013

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PLATAFORMA REVÓLVER PISO1
CABEDAL

Artistas | Pavel Büchler, Nina Chua, Nick Crowe and Ian Rawlinson, Tiago Duarte, Nicola Ellis, Mary Griffiths, Shona Harrison, Ana Rosa Hopkins, Jo McGonigal, Fiona McKillop, Eileen O’Rouke, Richard Proffitt, Maeve Rendle, Evangelia Spiliopoulou.

Curadoria | Tiago Duarte e Ian Rawlinson

A exposição, para a qual foram selecionados trabalhos dos recém-graduados do Mestrado em Belas Artes da Manchester School of Art e dos seus tutores, é um convite a refletir como as práticas artísticas podem beneficiar de uma discussão partilhada e de uma experiência comum manifestada através de dez anos de teoria e prática. Apresenta um retrato da pedagogia desenvolvida a partir de um debate sobre a natureza dos trabalhos artísticos, caracterizado pela mudança de pensar o “trabalho da arte” em oposição à reflexão sobre a “obra de arte”.

“Cabedal” retira o seu nome da palavra portuguesa cabedal, sendo especificamente um material espesso e trabalhado – o tipo usado para sapatos e selas –, palavra que descreve um material forte e resistente, feito para durar. Idiomaticamente a palavra significa saúde e força mas aqui cabedal é uma referência a uma marca duradoura deixada nas coisas que vivem depois da morte do seu autor. Reflete o enfoque da exposição nas formas como os artistas investem num tratamento estético da superfície do objecto artístico como um índice de significado, autoridade e memória.

As qualidades do material que são expressas na superfície desses objetos, revelam não só a prática artística na realização dessas “coisas” mas servem para sublinhar questões curatoriais de sedução e rejeição na produção estética. Esta superfície trabalhada é assim, não tanto uma consideração da camada superficial da vida moderna mas uma área carregada de reinvenção, uma pele espessa, – como a palavra portuguesa diria – cabedal.

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“On the day we sailed, going through a narrow street with the residences of demented countesses, the shops of hallucinated bird dealers, and tourists bars where the English went for their morning gin transfusion, the taxi dropped us beside the Tagus on a strip of sand called Belem, according to what could be read on the nearby train stop with a scale on one side and a urinal on the other, and he caught sight of hundreds of people and teams of oxen that were bringing stone blocks for a huge building…”

In “The Return of the Caravels”, Antonio Lobo Antunes, Groove Press, New York, 1988

Manchester to Lisbon to Manchester

The white light that fills the atmosphere on a cold and crispy November day is no news for these prosperous cities at the western edge of Europe.
Somewhere from amongst the beloved seven hills of one of this cities caravels were carved out of the best available wood for the maritime enterprise that would make Lisbon one of the great commercial centres of the 16th, 17th and 18th century. At an equal latitude but further north of the Bay of Biscay, Manchester was still an embryonic project; this northern capital could not guess what links would emerge between the Portuguese voyage and the immanent economic boom that would transform the face of these cities and of the world.
In a time of enlightenment Lisbon carried the sounds that surrounded the busy streets flooded by small industries; The labour implied in the project of making the world a smaller place, blacksmiths, carpenters, food and spice markets, map making workshops, maritime academies, tanneries and the ever eternal flux of people in their day to day trades of a market place that each day presented something unknown to the traditional trade of the plazas of Europe.
Up north the dream of industry was being forged. As vast land resources opened up the planet diminished in size. Industry and its various implications for labour were redesigned and equipped with the propulsion to feed a market that was becoming global. In this world the craft attributes of the commodity where adapted to the speed necessary to manufacture and distribute product to the globe. Though the European enterprise ‘discovered’ land and rediscovered a use for its substances, a voracious capacity for distribution was immanent at the heart of its endeavour.

It seems that somehow the implication of both these enterprises, distinctive in intention and design, has had a strong influence on artists’ behaviour and achievements. The contradictions of both the expansion of the known world and the invention of the “modern commodity” shaped our cities, cultures and minds.

We wonder at how meaning can be extracted from the brutal social and economic transformations of the last three centuries in relation to the art being produced today? At how we draw a line from what has had a direct influence on production (whatever its nature) and what has not?
The overheated pressure to produce, to be productive, is matched only by the overwhelming call to consume and both are coercively established as the defining feature of modern existence.
To quote Peter Fischli – ‘There’s certainly a pleasure in occupying yourself with something for an unreasonable length of time’ (Fischli & Weiss, Flowers and Questions, Tate Modern, 2007) and this rebellion is a form of resistance to the choking and coercive social order that reproduces itself at every turn. To be modern is to be in a condition of alienation – and the condition of the artist is to be re-productive in the absence of any utilitarian, societal or ecological demand for art.
Although technological obsolescence is the conspicuous driving force of our current economy, artists continue to forge meaning from the availability of materials to work with. It seems that more than anything – meaning, for the artists, is extracted from the labouring activities of art itself. The doing as much as the making.
In Cabedal we encounter touch and manipulation, the savoir faire shoulder to shoulder with the motivation of intellectual nature and cerebral intention. These two notions are explored without confrontation. The expectancy for deliverance does not arrive solemnly from our attempt to comprehend but from our perceptive system as well. Without the “presumptuousness” of wanting something more from the art object than what it perceptively offers this exhibition is an invitation, an open door, an assumed “come and see”.

Cabedal is a word that describes a material by itself strong and resistant, made with the intention of lasting throughout its long use as an accessory or as a working tool. But, here ‘Cabedal’ is an allusion to the visible remains of things that have been done. Referencing not just the ephemerae of life in the scale of time but expressing the perversity of a long lasting “mark” left on things that tragically outlive their author. This exhibition intends to show how surface is worked through as both an aesthetic and conceptual concern and how different artists have played out these same concerns across different modes of production.
Superficially a dialogue emerges between how things look and our ambition to “understand through looking”. It is at the skin of each work that the physical theatre for artistic expression can be found – debating and deliberating surface and its appearance as a register of meaning, authority and memory.
The corporeal appearance of a surface allows our perception to uncover some of the methods and techniques utilized by the artists in the action of doing; the modus operandi with which each artist conducts their fabrication or alteration of objects. On the other hand our limited visual perceptions seduce or distract, revolt or emphasise without resolving or revealing.

“The true reality of an object lies only in a part of it; the rest is the heavy tribute it pays to the material world in exchange for its existence in space.”
In The Book of Disquiet, Fernando Pessoa, Serpent’s Tail, London, 1991.

These objects and their appearance operate in the most honest and perverse method of captivation by acting as bait for the eye. It is in the perceptive triangulation between object, its appearance and it’s possible “meaning” that surface acts as the intermediate channel between spectator and spectacle engaging the viewer with the art.
It is with these notions of surface, superficial and superfluous intertwined with the universal human condition for signifying and significance, that the show effects a release from notions of pure aesthetics, from veneers of appearance to justify deeper meanings.
In Cabedal the formal aspect of things are explored at the surface level. They confront us with not just the artistic practice in the making of these “things” but with questions of seduction and rejection. Cabedal is addressed and conducted through a code of “appearances” that manifest formal visual qualities by denuding the materials and ethics of production for such things.
In English to be possessed of a ‘thick skin’ is to be insensitive, however, here as Cabedal – it is to be of substance, resistant, strong and virile.

Publicado a 16 de Novembro de 2012

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“ACHAS QUE TE QUERIA MATAR? (y otros labOratórios)”

Olga Mesa

LabOratorio/labOfilm é um projecto de oficinas coreográficas gerador de instalações evolutivas (dípticos audiovisuais iniciado em 2011por Olga Mesa.
Nesta dupla projecção poderemos ver dois pontos de vista, de uma única cena. Rostos e corpos de mulheres de várias idades encontram-se, escondem-se, ocultam-se, olham-se, tocam-se e confundem-se num labirinto imaginário de ressonâncias espaciais e evocações. O som, recôndito multiplica e impõe os espaços.
A coreógrafa propõe a encenação do corpo Operador* numa rodagem. Num espaço labiríntico cheio de “fora de campo”, o corpo, a camara, o movimento, o som e a voz, traduzem a relação do ser com o mundo, com a realidade e a ficção, com o visível e invisível, com a memória individual e colectiva.
Este corpo Operador* não hierarquizado constrói a sua identidade abandonado uma experiencia de relevo e intercambio dentro do grupo, onde observar e ser observado será tão importante como acionar; e onde o outro será o lugar a partir do qual se irá construir uma memória comum.

*corpo Operador: corpo-olho que captura os seus impulsos e decisões num diálogo com a camara. Corpo que interpreta e realiza simultaneamente a montagem de uma sequência cinematográfica em tempo real, ou em diferido. Corpo num campo de batalha. É o ponto de contacto, e muitas vezes de choque entre o visível e o (in)visível, entre a ficção, o real e o imaginário.

Publicado a 16 de Novembro de 2012

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I WOULD PREFER NOT TO

A partir do conto de Herman Melville, Bartleby, o escrivão

Artistas | Carla Rebelo, Catarina Saraiva, Ema M, Jorge Pinheiro, Manuel Botelho, Pedro Saraiva e Rui Macedo.

I WOULD PREFER NOT TO é uma exposição de artes plásticas que se realiza no contexto do colóquio homónimo coordenado por Maria Lucília Marcos no âmbito do programa de investigação do CECL/FCSH-UNL Centro de Comunicação e Linguagem da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa.

Sete artistas são convidados a produzir um conjunto de trabalhos artísticos inéditos e especificamente para Espaço Plataforma Revólver 2, convocando as disciplinas de Pintura, Desenho, Escultura e Instalação a partir da interpelação dos conceitos: AMBIVALÊNCIA, RESISTÊNCIA, SUSPENSÃO, MELANCOLIA, INTERRUPÇÃO, IMPOTÊNCIA, INDIGNAÇÃO e TRABALHO. Estas palavras-chave surgem na releitura do conto de Herman Melville intitulado Bartleby, the Scrivener. A Story of Wall Street. As obras a expor serão documentadas, analisadas e criticadas num texto da autoria de Maria João Gamito.

Publicado a 16 de Novembro de 2012

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Artistas | Alexandre Farto, Ana Rito, Ângelo Ferreira de Sousa, Catarina Mil-Homens, Hugo Barata, Louise Hervé & Chloé Maillet, Nuno Sousa Vieira, Rodolfo Bispo, Sara & André, Tom Jarmusch

Curadoria | Patrícia Trindade

2012. Ano lendário de previsões apocalípticas. Ano de contenção, de austeridade, de crise. Com um cenário desolador de crescimento do desemprego, da dívida, de juros e de compromissos que se têm de cumprir “custe o que custar”. Vendemos os recursos básicos do nosso país, hipotecamos a educação e dizemos que afinal a saúde não é para todos, é para quem pode pagar. Neste contexto, a cultura (refiro-me aqui sobretudo às artes visuais), tal como a economia, está a estagnar mais rapidamente do que se esperava. Há pouco tempo atrás, ninguém calculava que hoje, a cultura, “ (…) estivesse em vias de extinção.” (1)

Haverá lugar para a produção artística no meio desta crise financeira? Qual o papel a desempenhar pelo artista nestas circunstâncias? Qual a posição da arte numa sociedade comandada pela direita? Perante o cenário sombrio que se tem vindo a desenhar, onde as únicas regras aplicadas são as do capital, a cultura ficará sempre em segundo plano. Contudo, no meio da penumbra, é fundamental encontrar luz ao fundo do túnel. Para isso, é preciso escavar:

DIG DIG é uma proposta expositiva que pretende refletir acerca do passado e futuro da cultura.

Os artistas convidados mergulharam no universo de referências do século transato para as trazer a debate e as desconstruir, assumindo os trabalhos, na sua maioria sítio-específicos, como cápsulas do tempo. De um tempo em que a palavra cultura era sinónimo de civilização, de valores, de conhecimento, enfim, de um modo de vida.

Os trabalhos apresentadas nesta exposição são um testemunho do pensamento, da identidade, da cultura e do contexto sociocultural contemporâneos. Uma forma de recordar que uma sociedade livre só existe quando existe cultura: “sem cultura não pode haver liberdade, só um perigoso simulacro”. (2)

Estes recipientes, onde ephemera, documentação e objetos de culto se aliam a referências, influências e objetos artísticos, serão desenterrados, abertos e descobertos pelo público no dia 27 de setembro na Plataforma Revólver, em Lisboa.

(1)- In REVISTA ÚNICA (24 de Setembro de 2011), Clara Ferreira Alves, Para acabar de vez com a Cultura. Ler mais: http://expresso.sapo.pt/para-acabar-de-vez-com-a-cultura=f675167#ixzz1tjMGlMwL
(2)- DIONÍSIO, Mário; “Cultura: Paradoxo e Angústia”. In Jornal de Letras, Artes e Ideias, nº5 (28 Abril 1981), p.16

Publicado a 11 de Setembro de 2012

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Artistas | André Gomes, Inez Teixeira, Lluís Hortalà, Magali Sanheira, Manuel Valente Alves, Pauliana V. Pimentel, Pedro Cabral Santo, Rui Sanches, São Trindade.

Curadoria | victor pinto da fonseca

«I do not want art for a few anymore than I want education for a few, or freedom for a few»
William Morris (1834 – 1896)

Lembrar o potencial e as possibilidades da arte, é romântico, num certo sentido. A exposição O Sonho de Wagner, retira o seu título ao documentário realizado em 2012 por Susan Froemke, sobre a magnífica produção de Robert Lepage da tetralogia de Wagner: O Anel de Nibelungo.
O Anel de Nibelungo (1848-1874) refere como a sociedade se torna refém do poder e do dinheiro e, como isso é destrutivo… Objectivamente, esta alusão – actualmente -é extraordinariamente importante: nós podemos ver isto, no tempo presente; os problemas, os sonhos, são os mesmos que agora nos ocupam. A sociedade esqueceu-se do essencial, parecendo que a economia se tornou na medida absoluta de como nós ordenamos e ditamos o progresso e o desenvolvimento. É interessante lembrar como no nosso país já não é possível sonhar, empreender é impossível mesmo, sobretudo na arte! Paradoxalmente só a arte nos oferece tudo.

Vasto Mundo o do Romantismo

O título da exposição O Sonho de Wagner, é também uma referência à arte pela arte, nosso último reduto de participação e liberdade e, segundo, uma referência ao romantismo – à necessidade de nos construirmos em liberdade de pensamento, que nos permita encontrar a verdadeira medida da nossa loucura, exaltando o prazer dos sentidos capaz de captar as emoções e a sensibilidade da humanidade. O romantismo enquanto arte, sempre apareceu ligado ao conceito de liberdade, de transcendência entre outros, no sentido revolucionário.
Ainda que o romantismo se exprima entre a época neo-classicista (quase em simultâneo, ainda que numa óptica antagónica) e o realismo, actualmente é difícil (insensato) estabelecer -com precisão – onde começa o romantismo em termos de espírito, comportamento e vontade. O termo “romântico” designa menos um período histórico ou um movimento artístico preciso, que um conjunto de qualidades, temperamentos, de atitudes e sentimentos – cujas particularidades residem na sua natureza específica e sobretudo na origem das suas relações. À medida da literatura, o romantismo terá a sua origem em Shakespeare (Romeu e Julieta) e reencontra-se em Baudelaire.
Mas o que é sobretudo original no romantismo, é o princípio que reúne naturezas duplas, através de uma linha que corre entre o sentimento (emoção) e a razão: ligação que não visa excluir as contradições ou resolver o dualismo (as antíteses) espírito/ coração, vida/ morte, finito/ infinito, do bem e do mal, mas acolhê-las numa coexistência (complementaridade) que constituí a verdadeira novidade do romantismo.

O critério simples que determinou a escolha metódica dos artistas, é poder encontrar personalidade romântica em aspectos da vida de cada um destes artistas, devendo o visitante fazer a sua própria leitura das obras expostas. É incrivelmente importante a complexidade que a prática artística nos pode trazer.
A exposição O Sonho de Wagner responde a um propósito específico, de incitar o visitante a apropriar-se no essencial do “sentimento romântico”.

Meia praia, Agosto 2012
victor pinto da fonseca

Publicado a 11 de Setembro de 2012

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Um projecto de Pedro Cabral Santo e Gustavo Sumpta

Artistas | Alexandre Estrela, Catarina Saraiva, Eduardo Matos, Élsio Menau, Fernando J. Ribeiro, Gustavo Jesus, Gustavo Sumpta, Maja Escher, Márcio Matos, Nuno Viegas, Pedro Cabral Santo, Teresa Carepo, Tiago Batista, Vasco Lourenço

Se, por um lado, é verdade que não se pode isolar o trabalho artístico do mundo real, por outro, também não deixa de ser verdade que a sua verdadeira avaliação, e contribuição, diríamos única, também não se deixa afirmar sob um pretenso carácter nobre que incide sobre ele próprio.

Na procura e na busca de “pureza”, de verdade e conhecimento, é relevante pensar este problema sobre um outro prisma – o seu comportamento. Isto é, de que forma se pode calcular (medição calculada) as suas acções (do trabalho artístico). Desde logo, há que contar com o oportunismo mediático, situações encenadas que fazem da praxis artística uma determinada imagem de marca, se quisermos, um estilo de reconhecimento social que, necessariamente, conduz a uma estratégia de afirmação! Neste contexto, podemos encontrar alguma incongruência entre o discurso e a atitude no duplo sentido; na recusa estóica em prol do “procura de realidade” e, por outro lado, no uso de sinais exteriores de reconhecimento tão típicos da nossa sociedade.

Publicado a 1 de Junho de 2012

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OS CULTUROFAGISTAS
Curadoria | Ana Fonseca e Mara Castilho

Artistas | Ana Fonseca, Gabriela Gusmão, Gustavo Nóbrega, Mara Castilho, Márcio Botner & Pedro Agilson, Rosana Ricalde, Sara & André

O poeta declarou “A minha pátria é a língua portuguesa”, e o cantor, do outro lado do Atlântico, acolheu esta ideia de braços abertos.

Os Culturofagistas é um projeto entre artistas Portugueses e Brasileiros que aqui toma a forma de uma exposição ancorada na celebração de uma língua comum através da sua poesia. O cais de partida são letras de Samba e Fado, expressões vivas do património imaterial intrínseco a cada um destes dois povos. Os artistas foram convidados a revisitar a sua própria língua e a proceder à criação de uma obra original a partir de um poema musicado.

Ao despojar as letras de suas vestes musicais, sublinha-se a criação poética e camuflam-se as origens, semeando um certo distúrbio sobre a sua proveniência. Um certo espírito de Babel: dificilmente se saberá quais os objetos artísticos que se baseiam num Fado e quais os que se inspiram num Samba.

Certo é que todos celebraram uma língua comum e duas expressões musicais de riqueza ímpar, ambas reconhecidas pela UNESCO como património imaterial da Humanidade.

Apoios: Ministério da Cultura (BR), A Gentil Carioca (BR), 3 + 1 Galeria (PT), Força Motriz (PT), Eforgest (PT)

Publicado a 1 de Junho de 2012

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