II
Porque apesar de perto ser distante, é sempre de mais perto que olhamos o que queremos conhecer.
Assente nas finas estacas, a acentuar a instabilidade da construção, duas estruturas desnudam o processo de camada em camada. É o tempo e as circunstâncias que nos erguem. De arestas angulosas e superfícies planas vamos caminhando numa construção parcial que de nós fazemos.
A individualidade descentra-se, estendendo uma longa linha, como se o nosso percurso fosse sempre definido pela vontade de prolongamento num outro. Algures, no meio dessa vontade, edifica-se um momento. O encontro interrompe a aridez da pele. A cor intensifica a emergência de um não-eu que, simultaneamente, me define e, no gesto, me prolonga.
O que pensávamos de nós tem o tempo para acontecer. Pela acção caminham as palavras
onde “o ego se faz exterioridade” (Nancy, 1976). Na alteridade fica a função de recolher o traço do corpo actuante e que, apesar de subjectivo, será sempre uma forma de existirmos.
Eu sou perante ti, tanto quanto és perante mim, juízos cambiantes de um eu…
Juízos cambiantes de um tu.
Eu olho-te. Tu olhas-me.
Tu falas-me. E vice-versa…
Carolina Rito