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“Arquivo e alteridade”, exposição de José Maçãs de Carvalho, prossegue uma investigação em torno do arquivo, memória e dos circuitos mnemónicos que podem iluminar as relações imagéticas entre aqueles.
Este conjunto de fotografias articuladas entre si, de forma não-hierarquizada, passarão seguramente pela lógica da hiperligação, enquanto rede de ligações indexante, tomando em consideração a “lei-da-boa-vizinhança” e a “iconologia dos intervalos” (termos cunhados por Warburg), no sentido de podermos clarificar as relações de significação entre imagens, ou melhor, as tensões relacionais entre as imagens num contexto não narrativo.Tensões essas estimulantes de ressonâncias, paralelismos e associações disjuntivas, na linha de pensamento de Roland Barthes, quando refere um sentido obtuso em algumas imagens, por oposição ao sentido óbvio, este do domínio do simbólico, o outro enquanto excesso que desestabiliza o simbólico e que é acidental no trabalho artístico, mas significativo na sua recepção.

José Maçãs de Carvalho (Anadia, 1960)
Licenciado em Línguas e Literaturas Modernas (Universidade de Coimbra); Pós-Graduado em Gestão de Artes (Inst. de Estudos Europeus de Macau); Doutorando em Arte Contemporânea (Colégio das Artes da Universidade de Coimbra) e Professor no Departamento de Arquitectura da Universidade de Coimbra.
Foi bolseiro da Fundação Calouste Gulbenkian (1994), Fundação Oriente (1999-2007), Instituto Camões (2001 e 2007), Centro Português de Fotografia (2003) e Instituto das Artes/Dgartes (2006, 2007 e 2008).
Em 2002 comissariou o projecto “Topografias da Vinha e do Vinho”, missão fotográfica sobre a Região da Bairrada, (Cordoaria Nacional, Lisboa e Kunstlerhaus Bethanien , Berlim); em 2003 comissaria e projecta as exposições temporárias e permanente do Museu do Vinho da Bairrada, Anadia; em 2005 comissaria “My Own Private Pictures”, na Plataforma Revólver, no âmbito da LisboaPhoto.
Nomeado para o prémio BESPhoto 2005 (Janeiro a Março de 2006, CCB, Lisboa) e para a “short-list” do prémio de fotografia Pictet Prix, na Suiça, em 2008. Júri no concurso de fotografia Purificacion Garcia, Madrid, 2006 e no Festival de Cinema Black and White, Universidade Católica do Porto, 2009. Organiza e concebe a exposição “My Choice – escolhas de Paula Rego na colecção do British Council”, para a Casa das Caldeiras, na Universidade de Coimbra.

Publicado a 20 de Abril de 2012

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BEYOND EMOTIONS
PLATAFORMA REVÓLVER PROJECT

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BEYOND EMOTIONS

Leonor Hipólito

Os dias passam, os meses avolumam-se e as páginas de um livro preenchem-se.
Na tentativa de desenhar a imagem das emoções a linha sai esbatida e os contornos ambíguos. A familiaridade da composição é a estranheza da mesma.
Uma frase ressalta da escrita: Beyond Emotions.
Resultado de ano e meio de pesquisa: Beyond Emotions é o novo projecto de Leonor Hipólito que reúne objectos e um livro.

Publicado a 20 de Abril de 2012

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PISO 1
O PESO E A IDEIA

PLATAFORMA REVÓLVER (Piso 1)

Ana Fonseca, Bryn Chainey, João Ferro Martins, Nuno Vicente, Orlando Franco, Samuel Rama, João Pombeiro, Ricardo Quaresma Vieira, Marisa Benjamim, Rita Firmino de Sá, Rodrigo Bettencourt da Câmara, Vítor Reis, Susana Anágua, Ruth Le Gear, Sara Wallgren

Curadoria | Orlando Franco e Nuno Vicente

A ideia parte do questionar um objecto/obra a partir das suas principais premissas existenciais: a forma e o conceito. Na sequência disso, e a partir de uma intenção de discutir estas premissas, Orlando franco e Nuno Vicente principiaram numa problematização entre a dimensão física e conceptual de uma obra, por um lado, no entendimento plural desta dicotomia, por outro, a forma como esta é entendida na singularidade de cada artista.
De modo rizomático, os artistas surgem no seguinte contexto como o resultado duma aproximação de vários pensamentos, operado sob a velha formula da empatia e da admiração mutua, quer umas vezes, pelo trabalho, quer outras pela sua postura. Tautológico, foi a constatação por parte dos artistas que na arte existe a oscilação de um binómio constituído pela forma e o conteúdo da obra, uma premissa básica e suficientemente abrangente para conveniência ou urgência de um mote institucional que possa ditar a conexão dos vários artistas em exposição.
A constituição de um catálogo é à parte com a exposição, o momento procurado pelos artistas como possibilidade de expressão, operado de modo múltiplo e onde cada um dos intervenientes irá falar de modo aberto através de um texto, sobre a intenção artística, mais do que sobre os seus trabalhos, apresentando seus pontos de vista e o que deveria para cada um ser a arte e a sua direcção.

Publicado a 20 de Abril de 2012

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PISO 2
OBJET TROUVÉ

PLATAFORMA REVÓLVER (Piso 2)

Pedro Telmo Chaparra, Miguel Faro, Alexandre A. R. Costa, Biana Costa, Teresa Forbes, Javier Núñes Gasco, André Graça Gomes, Stefan Kornacki, Dominik Lejman, Melanie Manchot, Régis Perray, João Ribeiro, José Eduardo Rocha, André Teles.

Curadoria | Mário Caeiro

Objet Trouvé. A cidade é um cadáver esquisito.

OBJET TROUVÉ é a segunda de uma série de exposições dedicadas ao objecto do ponto de vista da ética da arte pública. A primeira exposição – OBJET PERDU – manifestou aspectos críticos da produção objectual face ao regime da arte contemporânea: o valor da imponderabilidade no processo colaborativo, o dinamismo da interligação entre os níveis da representação e da reflexão ou, finalmente, a multivocidade da acção artística no quotidiano. Na trama de argumentos, conforme concretizada na modalidade do dispositivo expositivo, a noção de perda constituiu o leit motiv para relacionar a produção artística com um certo distanciamento dos criadores face às narrativas culturais e ideológicas, mormente a própria ‘arte’.

Em 2012, este padrão de reflexividade, típica da arte crítica, desenvolve-se, ironicamente, no sentido do reencontro com o objecto. OBJET TROUVÉ reúne treze artistas cujos trabalhos contribuem para uma perspectiva multidimensional da vida colectiva, enquanto lugar-objecto de redenção social. Num encontro tão frágil e efémero quanto fulminante, e independentemente das estratégias de representação e interacção estética em causa, a ideia de palimpsesto enquadra esta emergência de uma forma social de que todos somos personagens à procura de um autor. Tal formação é historicamente uma deriva utópica, motivada por carências pedagógicas e terapêuticas (como na Bildung romântica). Na tradição da arte como techne, trabalho sobre as formas nas coisas, redunda num ethos que acarreta escolhas ao nível do dispositivo plástico e projectual. Os objectos tornam-se então testemunhos das acções que os definem; mas genuinamente graciosos apenas quando encontro com o outro e com o social, compassivamente.

Em OBJET TROUVÉ, este jogo crítico da inscrição do poder da arte continua a assentar na possibilidade da concreção objectual. Não como na praxis surrealista (reduzida pela história a uma linguagem), mas algures entre a noção mundana da trouvaille, o motivo processual da serendipidade e o desejo meta-comunicacional do aforismo. Em tempo de sound bites e verdades extremamente residuais, e face ao estertor tanto da reflexão política como do modelo de produção industrial, será que a discreta auto-contenção destas obras, fruto da distanciação dos autores para com as narrativas colectivas dominantes, não poderia ser vista como uma moral transparente da arte como tradição superada?

No quadro confinado dos espaços galerísticos, estas questões têm-se traduzido em práticas relacionais, nem sempre o discurso indo ao encontro de uma experiência produtiva do sublime. Daí a relevância de uma arte que traduz em luminosos encontros estéticos os sentimentos que mais fundamente motivam o devir da cidade, esse palimpsesto urbano violentamente descontrolado que entretanto se constitui como imagem representativa da nossa espécie e suas formas de habitar. Ao mesmo tempo, essa arte – transmissão de memória, vislumbre de possíveis, resiliência da polis – é antes do mais um modo produtivo de ir ao encontro do(s) objecto(s), experimentando mecanismos de jogo e acção, de encenação ou afastamento, explorando toda uma gramática da consciência e em particular a do efémero específico da condição artística no socius. Só que então, se a cidade é ela própria o objet trouvé destas práticas de apropriação e análise, não seremos nós próprios sucessivos ready mades (cada vez menos energéticos?) e a cidade o nosso museu, pejado de objectos perdidos e encontrados? A cidade é um cadáver esquisito.

Mário Caeiro
Lisboa, 2012

Publicado a 20 de Abril de 2012