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Publicado a 27 de Setembro de 2012

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Um projecto de Andrea Brandão

Reúno no meu ateliê uma série imensa de objectos. Entre curiosidades encontradas ou por mim fabricadas, esses objectos coabitam no espaço do ateliê e organizam-se numa matriz muito pouco metódica. Quase autónoma como estrutura, não fosse eu recusar-lhe esse valor. Gestos começados, suspensos, adiados pelo caminho ou a caminho, apenas apontados em cadernos, grandes projectos por afinar, por recomeçar, pequenos objectos, desenhos rápidos, concisos e inconcisos, livros e listas. Listas de palavras coleccionadas, listas de material, listas de afazeres e de deveres, de nomes, de livros. Livros por comprar, por ler, por sublinhar, por reler depois de se ter lido um outro.
A colecção ocupa três salas – sala que antecede/ sala dos livros/ sala dos objectos – e está organizada em dois grandes volumes. Um comporta todos os trabalhos e projectos que até à data apenas existiam no meu ateliê. Trabalhos de parede, plinto, prateleira, ou mesa, dispostos muito próximos entre si, como um cabinet de curiosités. O outro é um trabalho em torno dos livros, a minha biblioteca pessoal em trompe l’œil.

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O seu trabalho explora uma noção de «processo» que procura testar os limites da definição de obra e da sua materialização. Será conceptual, no sentido em que parte de uma ideia, e no final se apresenta na forma que melhor se lhe adequa, e processual, dado o foco na acção concreta do fazer e nos gestos que determinam o trabalho propriamente dito. É no processo que a forma se define – guardando em si o seu desenvolvimento -, e, uma vez materializada, existe apenas por um tempo e num espaço específicos. AV

Andrea Brandão (V.N. de Gaia, 1976)

Licenciou-se em Design Industrial (FA-UTL) e concluiu o curso Avançado de Artes Plásticas no Ar.Co. Paralelamente, nas artes performativas fez formação em workshops dentro e fora de Portugal. Em particular as aulas com a Sofia Neuparth, os “Case Study” com João Fiadeiro e a bolsa danceWeb Europe 07 (VIE) com o apoio da Fundação Calouste Gulbenkian. Obteve a nomeação portuguesa ao prémio União Latina Jovem Criação em Artes Plásticas em 2007. Participou em vários festivais e exposições colectivas, nomeadamente: o Reheat festival (VIE), a colectiva “Pôr a par”, Espaço Avenida, “Decrescente Fértil”, Plataforma Revolver, mostra Jovens Criadores 06, exposição Anteciparte 09, (PT); e individuais: “um outro Mundo”, Kunstraum n5 (VIE) e “Construção”, EXD09 (PT). Em colaboração: “ O desenhador público” para “Future Projects”, Mews Projects, Feira de Arte Contemporânea e “Retrato Possível e Concerto Triangular”, galeria Appleton Square, EXD11, Lisboa. Com o colectivo MESA, apresenta “sobre quatro pés, um plano horizontal”, Teatro Turim – Teatro Maria Matos em 2011.
Desenvolve trabalho na área do desenho, performance, instalação e intervenção artística.

Publicado a 11 de Setembro de 2012

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Artistas | Alexandre Farto, Ana Rito, Ângelo Ferreira de Sousa, Catarina Mil-Homens, Hugo Barata, Louise Hervé & Chloé Maillet, Nuno Sousa Vieira, Rodolfo Bispo, Sara & André, Tom Jarmusch

Curadoria | Patrícia Trindade

2012. Ano lendário de previsões apocalípticas. Ano de contenção, de austeridade, de crise. Com um cenário desolador de crescimento do desemprego, da dívida, de juros e de compromissos que se têm de cumprir “custe o que custar”. Vendemos os recursos básicos do nosso país, hipotecamos a educação e dizemos que afinal a saúde não é para todos, é para quem pode pagar. Neste contexto, a cultura (refiro-me aqui sobretudo às artes visuais), tal como a economia, está a estagnar mais rapidamente do que se esperava. Há pouco tempo atrás, ninguém calculava que hoje, a cultura, “ (…) estivesse em vias de extinção.” (1)

Haverá lugar para a produção artística no meio desta crise financeira? Qual o papel a desempenhar pelo artista nestas circunstâncias? Qual a posição da arte numa sociedade comandada pela direita? Perante o cenário sombrio que se tem vindo a desenhar, onde as únicas regras aplicadas são as do capital, a cultura ficará sempre em segundo plano. Contudo, no meio da penumbra, é fundamental encontrar luz ao fundo do túnel. Para isso, é preciso escavar:

DIG DIG é uma proposta expositiva que pretende refletir acerca do passado e futuro da cultura.

Os artistas convidados mergulharam no universo de referências do século transato para as trazer a debate e as desconstruir, assumindo os trabalhos, na sua maioria sítio-específicos, como cápsulas do tempo. De um tempo em que a palavra cultura era sinónimo de civilização, de valores, de conhecimento, enfim, de um modo de vida.

Os trabalhos apresentadas nesta exposição são um testemunho do pensamento, da identidade, da cultura e do contexto sociocultural contemporâneos. Uma forma de recordar que uma sociedade livre só existe quando existe cultura: “sem cultura não pode haver liberdade, só um perigoso simulacro”. (2)

Estes recipientes, onde ephemera, documentação e objetos de culto se aliam a referências, influências e objetos artísticos, serão desenterrados, abertos e descobertos pelo público no dia 27 de setembro na Plataforma Revólver, em Lisboa.

(1)- In REVISTA ÚNICA (24 de Setembro de 2011), Clara Ferreira Alves, Para acabar de vez com a Cultura. Ler mais: http://expresso.sapo.pt/para-acabar-de-vez-com-a-cultura=f675167#ixzz1tjMGlMwL
(2)- DIONÍSIO, Mário; “Cultura: Paradoxo e Angústia”. In Jornal de Letras, Artes e Ideias, nº5 (28 Abril 1981), p.16

Publicado a 11 de Setembro de 2012

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Artistas | André Gomes, Inez Teixeira, Lluís Hortalà, Magali Sanheira, Manuel Valente Alves, Pauliana V. Pimentel, Pedro Cabral Santo, Rui Sanches, São Trindade.

Curadoria | victor pinto da fonseca

«I do not want art for a few anymore than I want education for a few, or freedom for a few»
William Morris (1834 – 1896)

Lembrar o potencial e as possibilidades da arte, é romântico, num certo sentido. A exposição O Sonho de Wagner, retira o seu título ao documentário realizado em 2012 por Susan Froemke, sobre a magnífica produção de Robert Lepage da tetralogia de Wagner: O Anel de Nibelungo.
O Anel de Nibelungo (1848-1874) refere como a sociedade se torna refém do poder e do dinheiro e, como isso é destrutivo… Objectivamente, esta alusão – actualmente -é extraordinariamente importante: nós podemos ver isto, no tempo presente; os problemas, os sonhos, são os mesmos que agora nos ocupam. A sociedade esqueceu-se do essencial, parecendo que a economia se tornou na medida absoluta de como nós ordenamos e ditamos o progresso e o desenvolvimento. É interessante lembrar como no nosso país já não é possível sonhar, empreender é impossível mesmo, sobretudo na arte! Paradoxalmente só a arte nos oferece tudo.

Vasto Mundo o do Romantismo

O título da exposição O Sonho de Wagner, é também uma referência à arte pela arte, nosso último reduto de participação e liberdade e, segundo, uma referência ao romantismo – à necessidade de nos construirmos em liberdade de pensamento, que nos permita encontrar a verdadeira medida da nossa loucura, exaltando o prazer dos sentidos capaz de captar as emoções e a sensibilidade da humanidade. O romantismo enquanto arte, sempre apareceu ligado ao conceito de liberdade, de transcendência entre outros, no sentido revolucionário.
Ainda que o romantismo se exprima entre a época neo-classicista (quase em simultâneo, ainda que numa óptica antagónica) e o realismo, actualmente é difícil (insensato) estabelecer -com precisão – onde começa o romantismo em termos de espírito, comportamento e vontade. O termo “romântico” designa menos um período histórico ou um movimento artístico preciso, que um conjunto de qualidades, temperamentos, de atitudes e sentimentos – cujas particularidades residem na sua natureza específica e sobretudo na origem das suas relações. À medida da literatura, o romantismo terá a sua origem em Shakespeare (Romeu e Julieta) e reencontra-se em Baudelaire.
Mas o que é sobretudo original no romantismo, é o princípio que reúne naturezas duplas, através de uma linha que corre entre o sentimento (emoção) e a razão: ligação que não visa excluir as contradições ou resolver o dualismo (as antíteses) espírito/ coração, vida/ morte, finito/ infinito, do bem e do mal, mas acolhê-las numa coexistência (complementaridade) que constituí a verdadeira novidade do romantismo.

O critério simples que determinou a escolha metódica dos artistas, é poder encontrar personalidade romântica em aspectos da vida de cada um destes artistas, devendo o visitante fazer a sua própria leitura das obras expostas. É incrivelmente importante a complexidade que a prática artística nos pode trazer.
A exposição O Sonho de Wagner responde a um propósito específico, de incitar o visitante a apropriar-se no essencial do “sentimento romântico”.

Meia praia, Agosto 2012
victor pinto da fonseca

Publicado a 11 de Setembro de 2012

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Joana Rosa
O desenho em estado puro
por Miguel Matos

Se há uma coisa a reter antes de analisar qualquer obra de Joana Rosa, essa coisa será antes de mais, a ideia de doodle – um desenho feito de forma automática sem que a autora o tenha planeado e muitas vezes executado enquanto pensa noutras coisas. É uma maneira de fazer passar o tempo, uma distracção, por vezes um reflexo imediato da mente de alguém, possivelmente explicado através da psicanálise. Para Joana Rosa, o produto destes momentos é fascinante. A artista colecciona doodles, seus e dos seus amigos, catalogando-os e reunindo-os na sua colecção. Mas os desenhos que tem feito ao longo dos anos seguem também eles quase sempre o caminho de um doodle, embora provocado. Tal como a sua personalidade oscila entre momentos bons e maus, também a sua obra tem sido sempre “bipolar”. Assim, a par com uma produção de desenhos a que a autora designa por “pretos”, realizados com grafite sobre papel translúcido, Joana Rosa tem outro tipo de actividade. São desenhos “infantis”, onde a cor predomina em figuras de meninas princesas e homens-criança que pulam e brincam de forma aparentemente inocente. Até hoje, essa alternação entre estilos tem sido separada. Ora uma ora outra. E até agora, Joana Rosa tem dado primazia à produção de “pretos” (as suas exposições focam-se muito mais nestes). Os “pretos” eram desenhos obscuros, agressivos, repletos de maquinaria bélica, fios, botões, palavras de ordem, munições espalhadas e um caos organizado de carácter ameaçador. Por entre estes elementos, pernas de bailarina tornavam as composições mais paradoxais, parecendo serem reflexo de lutas internas da artista, com a vida e consigo própria. Intervalando estas explorações, Joana Rosa desenha sempre as suas “bonecas”. Mas a artista tem sentido um crescente mal-estar com a sua obra recente na fase dos “pretos” e tudo se tornou num ódio visceral contra as suas próprias criações dos últimos tempos. Assim, decidiu nunca mais desenhar “pretos”. São parte do seu passado e certamente obras de grande impacto visual, violentas e ameaçadoras. Mas isso acabou.
Nesta exposição, Joana Rosa decidiu investir na sua prática do desenho, como que num “ginásio de mãos”. Pegando nos desenhos das “bonecas”, ela fechou-se em casa e durante horas a fio de dias a fio. Desenhou as suas personagens de crianças-mulheres, desde as formas iniciais das “bonecas” até às criaturas descontroladas que agora vemos, rodeadas de elementos vários como peças de roupas desmesuradas (estas meninas brincam com a roupa das mães), peixes bons e maus, até dragões, aranhas e outras criaturas fantásticas. Não busque aqui significados ocultos, simbologias ou mitos. São exercícios puros de desenho como disciplina. São personagens e criaturas que se desenvolveram nos seus traços e na maneira como as mãos de Joana Rosa aprenderam a representar melhor uma perna, um braço, um olho (seja de peixe ou de menina). Um soutien, um sapato desmesurado, umas meias caídas… são aperfeiçoamentos no desenho, que cresceram e ficaram salpicados no papel como caprichos extravagantes. A artista desenha como quem respira: sem dar por isso, sem teorizar cada inspiração ou cada traço, cada pinta, cada cor. As suas canetas traduzem uma fluidez que lhe interessa desde sempre e se relaciona com um lado oriental a lembrar Hokusai, como estampas japonesas de natureza erótica mas em que o que interessa é a forma e menos o conteúdo ou o significado. “Odeio conceptualismos”, diz Joana Rosa. A artista quer distanciar-se de programas e ideias filosóficas para se concentrar no aperfeiçoamento do desenho e no seu respirar num continuar que se traduz na sequência desta exposição, desde as meninas até às quase répteis criaturas mulheres.
“O desejo de ter uma ideia é como isco. Quando se está a pescar, é preciso ter paciência. Coloca-se o isco no anzol e espera-se. O desejo é o isco que atrai aqueles peixes – aquelas ideias”, disse o realizador, artista plástico e músico David Lynch. Mas uma ideia pode ser não um raciocínio filosófico e sim uma forma que se desenvolve noutras formas. “O que é bonito é que, quando se apanha um peixe que se ama, mesmo que seja um peixe pequeno – um fragmento de uma ideia -, esse peixe vai atrair outros peixes e agarrar-se-ão a ele. Então, está-se lançado. Em breve começam a surgir cada vez mais fragmentos e a coisa inteira emerge. Mas começa com um desejo” . E já agora, nesta exposição, também há muitos peixes…

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Joana Rosa (Lisboa, 1959)
Vive e trabalha em Lisboa. Frequentou a St. Martin’s School Art & Design, Londres, em 1978. Entre 1979 e 1983 estudou na London University College, Slade School of Fine Art Experimental Sculpture Course, em Londres. Recebeu uma bolsa de estudo da Fundação calouste Gulbenkian. Organizou o curso de Verão de Design de Joalharia, na A:R:C:O:, em Lisboa, onde também leccionou. Foi também professora no Curso de desenho do IADE, Intituto de Artes Visuais, Design e marketing, em Lisboa e de desenho no curso de Arquitectura da Universidade Lusíada, em Lisboa.
Está representada nas colecções do MoMA, Fundação de Serralves, Fundação Calouste Gulbenkian e em colecções privadas. Recebeu o prémio Lis 79 (Prémio Ex-aequo), Bienal Internacional de Arte Moderna (Secretaria de Estado da Cultura, Lisboa, Portugal) e o prémio Arte Jovem 92 (Prémio Ex-aequo), Museu de Chaves, Portugal.

Publicado a 10 de Setembro de 2012