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Frozen Yogurt Potlash
JOÃO FONTE SANTA

desdobravel-1

O Objecto Ausente

A proliferação de “manuais”de sobrevivência através de “logos” espalhados pelos media e pelos espaços urbanos, devolve a cada cidadão uma sensação de securidade, propulsora de um sentido de integridade física subjectiva. Na série Frozen Yogurt Potlash, Fonte Santa reporta-se a esses manuais de modo a (re) constituir a existência efectiva do sujeito, no aglomerado da dita aldeia global. Forçando-se a uma extrema passividade, o autor reproduz fielmente os dados inscritos nas mensagens, até a indentificação com o referente tomar o carácter de mimetismo, de uma camuflagem que declare a rigorosa ausência do sujeito.

Ausência efectuada por uma estreita proximidade, que as pinturas demarcam pela escala portátil e individualizada, imprimindo um eco da objectualização do próprio agente do mimetismo.
A passagem do readymade, na mimesis inicial, para a constituição da pintura como, a um tempo, objecto e matéria plástica, denuncia a sequência das oprações efectuadas, de um regime identitário para um regime analítico, patente na autonomia final das pinturas, relativamente ao seu mesmo referente. Não obstante, o retorno à condição inicial afirma-se de modo derradeirro, pela apresentação do conjunto das pinturas sob condição serial. Condição que desencadeia a constituição de uma desdobra potencialmente incessante de cada objecto-pintura e, como tal, acaba por remetê-las para um regime de indiferença generalizada. Convocando uma distância ontológica, Fonte Santa instiga a possibilidade de um mimetismo activo, ao deslocar a autoria dos referentes do Estado para cada um dos cidadãos. Pela – consciência – da (auto) instituição enquanto objecto, pode o sujeito diluir-se na multidão e, assim, percorrer o fluxo ininterrupto da existência.

Fernando Ribeiro

Publicado a 12 de Janeiro de 2005