Artistas: Ana Pérez-Quiroga, Catarina Saraiva, Jorge Santos, Pedro Valdez Cardoso
“The Act of Apparition”
Qualquer obra de arte pode ser encarada como um processo de emergência no campo de visão, um momento de aparição. Uma construção desenhada no espaço mental de cada artista, que materializa através de um acto, muitas vezes apelidado de transcendente. Se a palavra transcendência é normalmente apreendida num contexto religioso, não se está aqui muito longe desse domínio. O acto criativo emerge como um momento de consubstânciação de algo invisível, um acto quase mágico.
As obras da presente mostra parecem sobressair no espaço expositivo, como que suspensas no momento de aparição. A ideia de suspensão evidencia-se, aliás, como um tema dominante nos trabalho expostos (nalguns visualmente mais explícito que noutros).
Outra tendência parece ser a re-materialização dos objectos, uma vez que em todas as obras sobrevive um acto de apropriação de matéria preexistente – lixo, cadeiras, pedras, tacos de madeira -, seguido pela sua subversão e reapresentação de acordo com a poética e método de trabalho de cada um dos quatro artistas.
Por fim, deve falar-se de uma estratégia comum de engajamento directo com o espectador. Cada obra implica a participação activa, de um ponto de vista mais visual, no ‘lixo’ de Pedro Valdez Cardoso, em que o espectador é convidado a identificar os objectos que correspondem a cada forma e, nesse processo, assumir-se como criador da obra; num confronto físico de circulação no espaço, como acontece com os trabalhos de Jorge Santos e Catarina Saraiva, em que é forçado a circundá-los e, consequentemente, apreende-los; de uma forma mais emotiva na instalação de Ana Pérez-Quiroga, em que o espectador oscila entre a crença na magia da engenharia física que suspende as pedras e o confronto com as cópias dessas mesmas pedras.
No fim da experiência expositiva, desponta um sentimento: o de que o acto criativo prepassa o intelectual para se revestir do encantamento de um acto de magia.
Filipa Oliveira