![64 Saw the stars crashing, 2008, Inkjet prints ,Ed. 1/3 +PA, 80x120 cm](http://transboavista-vpf.net/wp-content/uploads/2008/12/64.jpg)
S/Título, 2008, Inkjet prints ,Ed. 1/3 +PA, 80x120 cm
Xangai Girls Do It Better
São apenas breves segundos, numa parte tipo “boy-meets-girl”, do vídeo de 1986, “Papa Don’t Preach”. São breves mas suficientemente significativos. Vemos Madonna encostada às grades de um jardim com as amigas, a trocar olhares com o seu interesse amoroso no vídeo, enquanto vestia uma t-shirt que declarava “Italians Do It Better”. Assumindo e proclamando, entre outras coisas, a sua ascendência italiana em tom de provocação jovial e bem disposta. Tornou-se massiva a utilização da t-shirt slogan, ou “statement”. Todas as grandes marcas de roupa, ou grandes cadeias de lojas têm hoje as suas, copiando afincadamente as que se tornaram de culto, noutras décadas. Já foi atitude punk, hoje é statement diário H&M.
As imagens que vemos nesta exposição são uma parte do trabalho resultante de uma viagem de Tatiana Macedo à China, no Verão de 2008. Quando decidiu passar dois meses em Xangai, não foi cheia de ideias pré-definidas sobre o que iria desenvolver, investigar. Decidiu deixar coisas em aberto, para tentar perceber o que a cidade lhe proporcionava. Uma coisa é sempre certa. A fotografia é o seu suporte primordial. Em todas as suas múltiplas abordagens, seja mais documental, mais propositadamente “promocional”, mais conceptual. O importante em cada projecto seu é a maneira como se relaciona com o sujeito que escolhe, como se tentasse relatar e reflectir o seu contexto social, sem nunca o transformar num número ou numa percentagem. Para nos obrigar a pensar exaustivamente no outro, naquele que não somos nós. Naquilo que nos aproxima, ou no que supostamente nos afasta.
Em Xangai, ao fotografar quem passava na rua apercebeu-se de uma diferença marcante. As raparigas naquela cidade não usavam calças de ganga, não usavam roupa “casual”. Estavam sempre ultra femininas, bem vestidas, arranjadas. Os rapazes a seu lado eram quase invisíveis, não se destacavam. Foi irresistível, passou dois meses a fotografar as mulheres no metro, na rua, a comer, a divertirem-se. Em cada imagem relaciona-se sempre com uma mulher, de cada vez, por um breve instante. Temos a sensação que sem o conhecimento destas. Sentimos que quase sorrateiramente, a artista investiga as jovens raparigas chinesas. Investiga também, obviamente, o seu papel na China de hoje.
Durante o processo viu uma rapariga, por breves segundos, com uma t-shirt rosa-choque com letras a preto em jeito de statement – “Boys Need Yoga Too”. Não conseguiu retirar a tempo a câmara fotográfica e não registou esse momento, mas essa pequena declaração acabou por motivar uma série de reflexões agora apresentadas.
Susana Pomba