Artistas: Susana Anágua, Ramiro Guerreiro, Daniela Krtsch, Lúcia Prancha, Isabel Schmiga e Juliane Solmsdorf
Curadoria: Alda Galsterer
Esta exposição apresenta vários trabalhos inéditos e site-specific de seis artistas alemães e portugueses;
trabalhos que foram desenvolvidos especificamente no confronto com o tema e com o lugar da exposição
em Lisboa.
O título da mostra é Heimweh/Saudade. E não se trata de uma tradução possível de uma língua para a
outra. Heimweh em alemão foi uma palavra cuja utilização é conhecida pela primeira vez no século XVI, e
como nome de uma doença diagnosticada a cidadãos suíços que se deslocavam para fora do seu país e ao
faze-lo reagiam com fortes sintomas físicos e mentais. Mais tarde, no século XIX, foi uma palavra ?adoptada?
pelo Romantismo alemão (alture na qual se criou a forte ligação desta palavra à cultura alemã até hoje),
ficando como sinónimo de uma sensação muito forte, a nostalgia sentido por algo desaparecido, associada
muitas vezes à falta sentida pelo seu país ou pátria. Saudade é uma palavra somente conhecida no galegoportuguês.
Diz-se não ter tradução. Mas provavelmente é uma das palavras mais utilizadas na literatura e
música portuguesa. Uma sensação que se poderia descrever como a vontade de (fazer) qualquer coisa, ao
mesmo tempo que pode ser uma nostalgia e um estado de espírito melancólico especial que tanta gente
reencontra na música do Fado português. Encontramos também inúmeros textos sobre a Saudade dos
Portugueses, como a famosa compilação de Eduardo Lourenço “O Labirinto da Saudade” que tenta explicar
em vários ensaios esse estado de espírito tão português.
Assim, estas duas palavras no título acabam por ser mais uma sobreposição de duas ideias e estados de
espírito que são típicos para cada país e sua cultura. A partir do campo semântico destas duas palavras
desenrola-se a busca e a discussão com a própria cultura e a do outro.
Ambas são palavras pertencentes a estas duas culturas aparentemente diferentes – a alemã e a
portuguesa, mas fazem parte do universo sentimental e linguístico de qualquer experiência de viagem,
partida e retorno. Com este ponto de partida, a intenção desta mostra é de criar um lugar de reflexão
artística sobre o significado de “globalização” e “interculturalidade”.
Os artistas convidados, Susana Anagua (PT) Ramiro Guerreio (PT), Daniela Krtsch (D), Lúcia Prancha (PT),
Isabel Schmiga (D) e Juliane Solmsdorf (D) já passaram todos pela experiência de viajante e imigrante, ou
vivem actualmente essa realidade. As experiências em paises como Alemanha, Brasil, Espanha, França,
Grã-Bretanha, Portugal, Suiça e Turquia, entre outros, apresentam-se de forma multifacetada e
multidisciplinar nas obras que encontramos nesta exposição.
Dessa forma, a busca pela descoberta dos sentidos e significados de Heimweh e Saudade serve como base
para debater as suas experiências e mudanças muito pessoais que não se estendem só aos dois paises
Alemanha e Portugal, mas abrangem todo o tipo de influências multiculturais. Assim, com sensibilidade para
com o tema e o espaço da exposição, mas também com uma certa ironia, as obras apresentadas levam-nos
a uma viagem para outros mundos e identidades.