
S/Título, 2010, Lápis de cor e carvão sobre papel, 56,5x75,5 cm
A pintura é uma das mais fundamentais criações humanas, essencial para a humanidade. É um lugar construído através da acumulação de múltiplas memórias, sem pontos de fuga definidos. A consciência da fugacidade da vida é decisiva para a intensidade e urgência da pintura.
A pintura, ao contrário das imagens, nunca é instantânea: exige tempo, duração, no ver e no dar-a-ver. A tensão entre a bidimensionalidade do suporte e a ilusão de espaço é determinante para a existência da pintura. Importa sublinhar a verticalidade da pintura, contrariando-a.
Existe desenho sem pintura e, no entanto, não existe pintura sem desenho: tal como disse Pollock, desenho é pintura e pintura é desenho.
Estes desenhos-pinturas foram realizados em 2009 e 2010, existe uma ficha técnica e mais não escrevo sobre eles, de outro modo não os tinha criado, tinha-os escrito.
“Descanso da conversa, por um momento. Mas depois, ao ver que há uma frase etrusca ali escrita, já muito esvaída e parecendo garatujada, pergunto ao rapaz alemão: «Sabe lê-la?». Leu-a com uma rapidez estonteante. Eu, confesso, teria de ir letra por letra. «E que quer dizer?», perguntei. Ele encolheu os ombros. «Ninguém sabe».”
Manuel Gantes