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A Corte do Norte
COLECTIVA
Luís Nobre, Por detrás da Aparência, Tinta acrílica e grafite sobre tela, 100x70cm

Luís Nobre, Por detrás da Aparência, Tinta acrílica e grafite sobre tela, 100x70cm

Artistas: Bela Silva, Fabrízio Matos, Frederico Ferreira, Gil Heitor Cortesão, Inez Teixeira, Luís Nobre, Pedro Vaz, Rodrigo Oliveira, Rosa Carvalho, Sofia Aguiar, Sofia Leitão, Tomás Colaço

A exposição A Corte do Norte retira o seu título ao livro escrito em 1987 por Agustina Bessa-Luís. O livro trata do trajecto moral de Rosalina de Sousa, senhora do Funchal e que foi baronesa de Madalena do Mar; a novela passa-se entre o Funchal e a Ponta Delgada. O epicentro do livro é uma pequena vila de elegantes casas de veraneio, a Corte do Norte – situada na Ponta Delgada e tratada como ponto cardeal do sentimento insular que se instaura no uso da saudade, como algo que tudo invade e imobiliza. Como uma forma civilizadora e, no entanto, precária. (Agustina Bessa-Luís in A Corte do Norte)

A literatura cria relações com diferentes meios da criatividade contemporânea, nomeadamente as artes plásticas, a música e o cinema.

A exposição A Corte do Norte é como emprestar um livro do qual se gostou muito, mas também é uma directa homenagem à escritora.

A ideia do titulo A Corte do Norte parece fazer crer que a exposição se inspira na leitura da novela (parece estar a contar qualquer coisa), mas na verdade a exposição não transmite qualquer reinterpretação ou vislumbre do romance de Agustina, antes se apresenta muito ambígua à existência do livro – a exposição não representa um ponto cardeal e não tem a preocupação de referir uma identidade geográfica ou temperamento especifico, que permita alguma correspondência com o livro.

Realmente, esta é uma exposição que permanece ambígua na sua precisão, entre o específico e o arbitrário: trabalha com uma referência literária, mas foge dessa referencialidade, libertando os artistas aqui reunidos de produzirem uma reflexão sobre o tema – motivo pelo qual a exposição se apresenta autónoma da novela, não podendo ser associada a uma procura formal ou categoria estética comum, que crie uma analogia, um fim em si, que tenha inspirado a escolha dos artistas presentes.

A Corte do Norte pretende ser uma exposição que, como os bons livros que lemos, nos surpreenda, nos inquiete, nos transmita beleza e felicidade. Sem a imaginação que disserta na arte, seríamos menos conscientes da importância da liberdade para que a vida seja vivida.

É evidente que, o que foi dito apenas serve para explicar uma parte essencial do processo, a partir do qual nasce o sentido da exposição: o encontro de mundos possíveis entre a arte e a literatura.

A exposição apresenta diversos trabalhos de 12 artistas, de diferentes gerações, que partilham a característica de uma intensa e obsessiva prática de trabalho.

victor pinto da Fonseca

Publicado a 4 de Fevereiro de 2011