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MORPHOGENESIS – Placebo Effect and Binary Oppositions

Natércia Caneira

Arte, ciência e razão pós-humana

«A razão formal do corpo animal não consiste tanto na mistura (mixtio) quanto na estrutura (structura) peculiar». Georg-Ernst Stahl, Theoria medica vera (1708)
O projecto de instalação «Morphogenesis – The Placebo Effect and Binary Oppositions» da artista Natércia Caneira, baseia-se nos conceitos de «mecanicismo» e de «natureza» que, pelo menos desde o século XVIII, dividem o mundo da ciência (iluminista) do mundo da arte (subjectivista). É composta por dois núcleos que se distribuem por duas salas.
O primeiro núcleo da instalação, onde são expostos componentes de um fruto tropical comestível – a «múcua» do embondeiro –, lembra a natureza como «laboratório» da vida. Com efeito, o fruto tem propriedades comprovadamente benéficas (nutritivas e terapêuticas) para o ser humano quando usado em quantidades normais; no entanto, quando consumido em excesso pode ser maléfico (tóxico) para o organismo, o que acontece aliás com qualquer substância natural, comprometendo a vida humana.
O segundo núcleo lembra o sistema circulatório humano. É constituído por uma máquina bombeadora («coração») ligada a uma rede de tubagens («vasos») onde circula um líquido («sangue»), no qual são injectadas substâncias químicas com propriedades terapêuticas sobre organismos vivos, um dispositivo que desperta óbvias analogias entre a ideia de mecanismo e a de ser vivo, evocando o funcionamento mecânico-orgânico da circulação sanguínea no corpo humano, uma descoberta, feita por William Harvey no século XVII, que está na origem da moderna medicina científica.
Para pensar as dualidades «remédio-veneno» e «qualitativo quantitativo» existentes na natureza, a artista introduz no título da obra a ideia do «efeito placebo», que se baseia na crença (subjectiva) de que uma substância inócua pode ter um efeito terapêutico. Com efeito a eficácia terapêutica de qualquer substância, seja ela qual for (natural ou sintética), não depende apenas das características físico-químicas dos seus componentes, mas também da crença nos seus benefícios, que varia de acordo com a subjectividade individual. Mas com o veneno é diferente: a dose tóxica, embora sendo variável consoante as características biológicas inerentes às particularidades de cada organismo (peso, altura, patologias…), não depende do efeito placebo, ou seja de crenças ou quaisquer outros sentimentos que caracterizam a subjectividade individual. Religando conceptualmente ciência e arte, razão e fé, quantidades e qualidades, Natércia Caneira põe em causa os modos de olhar, pensar e investigar o ser vivo baseados em dicotomias – «natural-artificial», «orgânico-inorgânico», «corpo técnica» – abrindo assim as portas à ideia de uma pós humanidade digital, constituída por seres biotecnológicos, cujas capacidades de interactividade, fluidez, conectividade e outras emergentes associadas à lógica binária (computacional) poderão relegar o ser humano evolutivo tradicional para um plano secundário, de verdadeira obsolescência biológica.
Manuel Valente Alves

BIOGRAFIA
/// Em 2001 completou o curso Avançado de Artes plásticas no Ar.Co em Lisboa. Após vários cursos temáticos centrados na Arte Conceptual, Minimalismo e Land Art, participou no curso “Desenho da Paisagem Urbana” na Escola do Museu de Belas Artes em Boston (SMFA) e concluio em 2004 o curso “Monumentos enquanto Símbolos Culturais e Emblemas de Poder” na Universidade de Harvard também em Boston, Estados Unidos da América.
Com particular interesse pela relação entre o individuo e o espaço que o rodeia, o seu trabalho tem-se desenrolado em torno das questões do corpo e da paisagem, assim como da importância que a deslocação geográfica tem no desenvolvimento do processo criativo de um artista. Desde 2006, os projectos que realizou estão directamente relacionados com os seus momentos de vivência entre outras culturas, onde explora os limites da sua capacidade de adaptação física e psicológica, resultando posteriormente em trabalhos de instalações site specific, fotografia, desenho, pintura e mais recentemente vido-arte. Ultimamente Natercia Caneira tem vindo a abordar o corpo biológico e as suas limitações, concentrando-se na morfogénese e nos avanços científico-tecnológicos como catalisadores de ideais supra-humanos.
Desde 1999 que participa em exposições colectivas, das quais se destacam o Prémio Celpa, Museu Arpad Szenes / Vieira da Silva, em Lisboa e The Line Show na Galeria Genovese / Sullivan, Boston ambos em 2004. Participou também no Sines Local, Verão de Arte Contemporânea, Centro Cultural Emerico Nunes, em 2007. Em 2008 participou na exposição Alternativa 1, no Pavilhão 28, Centro Hospitalar Psiquiátrico de Lisboa. Por fim, e já em 2013, esteve na exposição Open House decorrente da Residência Pedra Sina no Funchal, Madeira.
Das exposições individuais evidenciam-se a sua primeira instalação site-specifc nos Estados Unidos, intitulada Limits of Softness, que decorreu em 2004 na Genovese/Sullivan Gallery, em Boston, Fibra de Luz, em 2006 no Museu Nacional do Traje em Lisboa, No Limits em 2007 no Centro Cultural de Odivelas; Détais Du Maroc, no Instituto Camões – Centro Cultural Português em Rabat, Marrocos e em 2009 Skyline Connect, na Fundação D. Luis I – Centro Cultural de Cascais. Em 2010 a instalação Random no Museu Bernardo das Caldas da Rainha, Portugal

Publicado a 7 de Março de 2014

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Nós

Curadoria de João Fonte Santa
António Caramelo, Garcia da Selva, Inez Teixeira, João Belga, João Fonte Santa, Mafalda Santos, Margarida Dias Coelho, Maria do Rosário Maia, Paulo Mendes, Pedro Amaral, Pedro Bernardo, Putas Bêbadas, Rodrigo Cotrim, São Trindade, Sara & André, Susana Gaudêncio

Nós, título citado da obra homónima do escritor soviético Yevgeny Zamyatin, que serve de referência para os romances de ficção-científica distópicos “O Admirável Mundo Novo” (Brave New World) de Aldous Huxley e “1984” de George Orwell, chama a atenção para os perigos recorrentes de uma sociedade tecnologicamente desenvolvida: alienação e híper-vigilância, mas também concentração do poder numa pequena e abusiva classe social.
Para mim, que cresci a consumir ficção-científica, estas três obras seminais serviram como uma sinalização daquilo que o futuro nunca seria… até um dia, de repente, olhar à volta e perceber que a “realidade” se tornara numa gigantesca Disneylândia, mas muito negra: uma classe possidónia tomou a caricatura por utopia e está, freneticamente, a concretizá-la.
Nós, a exposição, é o resultado-súmula de um processo levado a cabo em três outros momentos anteriores: “Rádio Europa Livre”, “O Declínio Do Mundo Pela Magia Negra” e “O Fim Da Violência” que procuraram (procuram) traçar, por um lado, uma “radiografia” do estado das coisas, e, por outro lado, demandar novas utopias e (im)possíveis iconografias para uma saída da ficção e um retorno à realidade.

João Fonte Santa

Publicado a 7 de Março de 2014

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SALA 1

Pascal Ferreira
06.03.2014 – 02.05.2014

“Sim, porque o mar fica onde as montanhas querem!”

BIOGRAFIA
Pascal Ferreira (1971) Nasceu em Paris.
Vive e trabalha na cidade do Porto.
Licenciado em Artes Plásticas – Escultura, pela Escola Superior de Belas Artes do Porto, 1996. Leccionou entre 1998 e 2009, como assistente do departamento de Escultura, na Faculdade de Belas Artes da Universidade do Porto. Actualmente desenvolve trabalho nas áreas da Instalação, Escultura e Desenho. Desde 2001 que expõe regularmente. Das suas mais recentes exposições individuais, destacamos, em 2013, “estórias soltas da montanha”, Objectos Misturados, Viana do Castelo;”POR ORA…”, Galeria SPUT&NIK the WINDOW, Porto; “Une idée de Nouveau Monde”- Performance, evento LAISSEZ_FAIRE 2ª Edição, Porto; “A História do Homem Montanha e a Menina dos Lápis de Cor”; Galeria dos Leões, Reitoria da Universidade do Porto; em 2012, “…de um conto infantil que comecei a escrever, estes são os três primeiros momentos de aproximação do Homem Montanha à aldeia onde vive a Menina dos Lápis de Cera…”, Galeria EXTERIL, Porto; e, em 2011, “ATALHO”, Galeria VPF CREAM ART, Lisboa. Das exposições colectivas, relevamos, em 2014, “Exposição Magna dos sócios do Praça da Alegria F. C.”, comemorações do 40º aniversário, salão nobre da junta de freguesia do Bonfim, Porto e “Teoria da Pintura – uma colecção quase objecto, ou mais”, AISCA, Viana do Castelo. Em 2013, “Laissez-moi-faire en rose”, LAISSEZ_FAIRE 2ª Edição, Porto; e em 2012, “Tornado ::: Digital Zero Artshow”, Biblioteca Municipal Rocha Peixoto, Póvoa de Varzim e “Pois! Pode ser que seja do tempo…”, “CHEIA”, Biblioteca Municipal Rocha Peixoto, Póvoa de Varzim. Em 2011, “PuÉ PuÉ” (Performance), Evento “15 minutos de FAMA” 4ª edição, Galeria EXTERIL, Porto; “Coletiva”, VPF CREAM ART, Lisboa; “Catavento”, Espaço GESTO, Porto; “Troca-se por Arte #2 ”, Casa de Eros, Porto.

Para mais informações clique aqui | vpfcreamart@artecapital.net | (+351) 213 433 259 | (+351) 961 106 590

SALA 2

João Jacinto
06.03.2014- 02.05.2014

BIOGRAFIA
João Jacinto (1966) Nasceu em Mafra, Portugal.
Vive e trabalha no Monte Estoril, Portugal.
Entre 1985 e 1999 estudou na E.S.B.A.L. Entre 1989 e 1992 leccionou no Ar.Co – centro de arte e comunicação visual, Lisboa e desde 2001, é Assistente na Faculdade de Belas-Artes da Universidade de Lisboa.
Entre as mais recentes exposições individuais, destacam-se, em 2013, Os Tempos da Pintura – Museu Barata Feyo – Centro de Artes das Caldas da Rainha 2012 Desde amanhã, Galeria Fernando Santos, Porto, Portugal. Em 2010/11, Tendas no Deserto, Fundação Carmona e Costa, Lisboa. Em 2010, Pele Atrasada, Galeria Fernando Santos, Porto, Portugal Guest Room Contemporary Art, Bruxelas, Bélgica. Em 2009, Guest Room Contemporary Art, Bruxelas, Bélgica Galeria João Esteves de Oliveira, Lisboa, Portugal. Em 2008, Galeria Módulo – Centro Difusor de Arte, Lisboa, Portugal. Em 2006, Renate Schröder Gallery, Mönchengladbach, Alemanha. Em 2005, Formadarte, Galeria de Arte, Estoril, Portugal; em 2003, Museo Extremeño Iberoamericano de Arte Contemporaneo, Badajoz, Espanha;?em 2002, Galeria Módulo – Centro Difusor de Arte, Porto, Portugal Fundação D. Luís I, Cascais, Portugal 2001 Renate Schröder Gallery, Colónia, Alemanha. Entre as suas mais recentes exposições colectivas, destacam-se, em 2009, “Do séc. XVII ao séc. XXI: além do tempo, dentro do Museu” Comissariada por Fátima Lambert, Museu Nacional Soares dos Reis, Porto, Portugal; em 2006, “Densidade Relativa” (Leonor Nazaré), Centro de Artes de Sines e C. C. Emérito Nunes. Sines, Portugal “Eine Ausstellung”, Renate Schöder Galerie, Mönchengladbach, Alemanha 2005 “Less is More”, Renate Schröder Gallery, Mönchengladbach, Alemanha “100 Desenhos”, Maus Hábitos, Porto, Portugal “Densidade Relativa” (Leonor Nazaré), C.A.M. Funação Calouste Gulbenkian, Lisboa, Portugal; em 2004, “Papierarbeiten – Paper works”, Renate Schröeder Gallery, Cologne, Alemanha; em 2003, Depósito Isabel Vaz Lopes, Museu do Chiado, Lisboa, Portugal; em 2002, “O Quê? Pintura. Claro! Porque não?”, Módulo, Porto, Portugal; em 2001, “Niebeneinander III”, Renate Schröder Gallery, Cologne, Alemanha.
Está representado em coleções nacionais e internacionais.

Para mais informações clique aqui | vpfcreamart@artecapital.net | (+351) 213 433 259 | (+351) 961 106 590

Publicado a 6 de Março de 2014

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WONDERING PATHS

Jan Brož, Matyáš Chochola, Ana Manso, Ana Santos, Ji?í Thýn, Monika Zawadski
Curadoria | Curator Markéta Stará

O ponto de partida para Wondering Paths tornou-se tema e processo gradual de novos encontros, encontros no âmbito da prática artística, mas também da experiência pessoal de um trabalhador cultural que é confrontado com um novo contexto, com os seus processos e meios próprios.
Wondering Paths é um projeto expositivo coletivo que reúne artistas emergentes provenientes da República Checa, Polónia e Portugal. Embora, se possa argumentar que o trabalho dos artistas selecionados desvela uma série de preocupações comuns, como as referências ao modernismo do séc. XX e o seu legado, um interesse pelo primitivismo, a ritualística ou o espiritual, a exposição não deve ser entendida como uma manifestação literal destas tendências, nem como tendo o objetivo redutor de introduzir a prática artística contemporânea em categorias pré-estabelecidas e globalizadas.
O objetivo da exposição é criar um ambiente teatral, um palco onde as formas e referências, que a prática artística globalizada contém funcione como pano de fundo para a elaboração de um argumento. Uma narrativa livre, construída com base em perceções, descontextualizações, descobertas, perdas, ganhos e, frequentemente, encontros (bem humorados) com o outro, que agora se redefine, e que pode, mas não tem necessariamente que abrir os esperados diálogos, pontos de vista e de encontro.

EN
The stage was quite, the lights were low. The objects, artifacts of a “past future” were carefully arranged in the space. They bared a resemblance of a seemingly familiar past, yet their relationships appeared somehow absurd and ambiguous. A sudden yet, subtle movement of a curtain – the partition between the inside and the outside, between the now and the than, interrupted the heavy silence.
An anonymous figure slowly entered the stage. Its footsteps were soft, its movements inconspicuous. With its look wondering around, the figure stopped at every object, carefully examining its nature and its key characteristics. Its look was deep and curious, yet knowledgeable. They were all objects of a not so distant history; the history somehow connected to the modern man, the man of eternal progress, the man that the figure had many times heard off.
The objects however, were not the same, neither were they copies or postmodern remixes. They were new forms, based up on the appropriation, and layering of numerous aesthetic categories and references, characteristic of a recent history. Although pointing to different cultural sources, they all seamed to share a similar engagement with the subject of temporality, layers of accumulated time, a possible infinity, and a sense of an ongoing (post-apocalyptic) past. After all, the break between what was, and what will (or can) be, frequently falls back on the human need to return, but can also result from the fear of confronting, or even becoming the “future other”.
The figure with its eyes wide open stood in anticipation in front of the curtain. The silent observer, shall we say (?). The space behind the curtain where the timeline supposedly continued (or proceeded?) seamed peaceful. The question however remains; on which side of the curtain did our character stand, the side of appearance or the side of disappearance?

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The Wondering Paths exhibition brings together young artist from the Czech Republic, Poland and Portugal.
Rather than aiming to manifest a particular tendency, that would trap all artists within one aesthetic category, the exhibition builds upon the symbolic language of their work, and references to the modern period and its sources, while developing a narrative of its own.
Individual works should thus be perceived as representative characters, or symbolic elements of a theatrical staging, that by the use of subtle humor, touches up on the present condition of man, our changing perception up on issues of temporality, and our ambiguous position towards what the “concept of a future” might be.

Publicado a 6 de Março de 2014

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Jordi Burch | Ondjaki

“Se não me engano, faz Angola” apresenta trabalho recente do fotógrafo catalão Jordi Burch. Na Plataforma Revólver, apresenta a sua visão particular sobre o interior deste país que visitou. A exposição é realizada em parceria com escritor angolano Ondjaki, que apresenta nove poemas que dialogam e se confrontam com as dezoito imagens de Burch.

estão vivos os fantasmas
e aprenderam a
a uivar.
preparo os pés.
reinicio a caminhada.
carrego na mão
essa âncora
que ao estar no chão
me macera
o tornozelo.
evaporaram-se
as palavras
molhadas.
está nu
o meu estendal.

respiro. espero.

oxalá
que os pássaros
saibam
o caminho de volta
até mim.

Ondjaki

BIOGRAFIAS

///Jordi Burch (Barcelona, 1979)
Atualmente reside em São Paulo, Brasil.
Colabora com a Weekend Magazine do Financial Times e com o Le monde. Foi colaborador permanente da revista Grande Reportagem. Colaborou com a revista Pública (Jornal Público), Expresso, Visão e Egoísta. Tem trabalhos em publicações
internacionais, como a National Geographic, o Courrier International, a Playboy Russa e a Folha de São Paulo.

///Ondjaki (Luanda, 1977)
Licenciado em Sociologia, Ondjaki desde cedo despertou para a Literatura. Os prémios depressa apareceram. Em 2007, recebeu o “Grande Prémio de Conto Camilo Castelo Branco” com a obra “Os da minha rua”. Na Etiópia, foi galardoado com o prémio “Grinzane for best african writer”, em 2008. No Brasil, foi vencedor do “Prémio Jabuti”, na categoria juvenil, com o livro “AvóDezanove e o segredo soviético”.
O seu livro “Os Transparentes” ganhou o “Prémio José Saramago”, em 2013.

Publicado a 6 de Março de 2014