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Lights, Camera, Action – Retratos do Cinema
Renaud Monfourny

Curadoria: victor pinto da fonseca

Membro fundador e fotógrafo da revista «Les Inrockuptibles», Renaud Monfourny participou na identidade visual da prestigiada magazine com os seus retratos fotográficos a preto e branco. Mais de 25 anos depois, Renaud Monfourny, fotografou as personagens mais emblemáticas da música e das artes tal como Jean-Luc Godard, Björk, Serge Gainsbourg, Kurt Cobain, Marguerite Duras, Leonard Cohen, Gerhard Richter, Catherine Deneuve, Michel Houellebecq, Eric Cantona, Quentin Tarantino, Isabella Rossellini, etc. Fez exposições em Buenos Aires, Tokyo, Bruxelles, New York, Berlin, Lausanne, El Salvador, Thessalonique, Madrid e chez Colette à Paris; a sua obra é reconhecida no mundo inteiro.

Renaud Monfourny, é um dos mais reconhecidos fotógrafos franceses: fotógrafo, e editor de fotografia da prestigiada magazine les inRocKuptibles. O trabalho de Renaud revela uma simbiose perfeita entre criação artística e fotojornalismo. As suas fotografias são directas e sedutoras, elegantes e reais – mas, sempre um statement sobre o Instante da construção do olhar decisivo, para lá da superfície das coisas, algo muito útil na fotoreportagem!
Renaud Monfourny fotografa frequentemente nas áreas do cinema, da música e outras celebridades do mundo da cultura e do espectáculo, com uma distinta intuição para pessoas – o retrato em particular é o seu modo primeiro de expressão -, criando imagens de grande beleza e intimidade.

A génese do Instante na construção do olhar, que define uma concepção particularmente livre, nos retratos de Renaud, é uma experiência difícil de enunciar, porque não se encontra à ordem do intelecto, é um infinito que supera toda a compreensão, mas que, ao mesmo tempo, se presta a uma apreensão directa e, de certo modo, ilimitada.

Nas primeiras páginas de “À la recherche du temps perdu”, Proust, fala da sua pobre recordação durante muitos anos da cidade de Combray – em que não obstante, havia passado uma parte da sua infância -, antes que o gosto da “Madeleine”, sobre o qual volta frequentemente, o transportasse uma tarde aos tempos antigos. Como conclusão, o passado, constitui-se “fora do seu poder e do seu alcance, na sensação que qualquer objecto material provoca em nós, que ignoramos qual pode ser”.

Encontrar essa sensação, a incerteza, é o instante de Renaud Monfourny! A fotografia de Renaud consiste na interpretação apaixonada da sensação física, do momento! De uma maneira mais simples, podemos dizer que é uma viagem mental (que se dá) a partir da construção – da selecção e do juízo – da percepção: que percebe, aprende, recorda, e pensa toda a informação captada através dos sentidos. Ela começa com a captação dos sentidos e logo em seguida ocorre a percepção.

Depender da percepção, da memória, da imaginação, em tal questão não resulta de modo nenhum natural, não depende da realidade objectiva, mas da visão subjectiva (dos factos externos, sem perder a sua identidade existencial), a possibilidade de nos podermos apropriar das nossas informações como partes da nossa experiência. É um mecanismo de conversão do que é captado para o nosso modo de ser interno.

victor pinto da fonseca

Publicado a 15 de Setembro de 2017

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GERAÇÃO 2015

Proyectos de arte Fundación Montemadrid

Elena Aitzkoa, Cristina Garrido, Karlos Gil, Laila y Nadia Hotait, Daniel Jacoby, Fermín Jiménez Landa, Karlos Martinez B., Lucía Simón, Pep Vidal e Oriol Vilanova

Curadoria Ignacio Cabrero

Como vem sendo habitual a Plataforma Revólver apresenta a proposta de arte contemporânea no contexto da programação da Mostra Espanha em Portugal.
Gerações é uma competição que premeia e apresenta a criação contemporânea de Espanha desde o ano 2000. A exposição Geração 2015 é formada por obras inéditas e produzidas para a ocasião dos dez jovens artistas selecionados por um júri de reconhecido prestígio. A exposição foi primeiro apresentada na La Casa Encendida em Madrid.
Victor Pinto da Fonseca

Viajar, deambular… perder o norte

– Ignacio Cabrero

Caminhar sem rumo, perder-se e deixar que a sorte ou as ruas da cidade te guiem. Ser como o flâneur descrito por Walter Benjamin nas suas Passagens, essse homem para quem andar pelas ruas sem direção fixa ou necessidade é a actividade mais genuina da vida, uma actividade que converte o espaço público da rua no que para o burguês é o espaço privado. Fazer do espaço público um labirinto em que deambulamos como pensavam os situacionistas. La dérive e o détournement propostos pelo pensador Gui Debord, que aponta para uma nova ideia de viagem através de esse espaço labirintico de desorientação, com um duplo sentido: a desorientação que se persegue conscientemente, mas também a noção do labirinto como estrutura de organização mental e método de criação. Vagabundos e erros, trajectos e caminhos sem saída.

O passeio como manipulação artística como inspiração literária-filosófica não é nada de novo. No campo da filosofia, autores como Rousseau com os seus Sonhos de um passeante solitario, e Henry Thoreau com Caminhar; ou, desde a literatura do século XIX, as reflexões sobre deambular pelas ruas da cidade pela mão de, por exemplo, Poe com O homen da multidão, ou a aparição desse flâneur anteriormente mencionado, associado à modernidade. Depois Kafka com O passeio repentino ou esse escritor passeante, Robert Walser, com O Passeio.

Os surrealistas , os dadaístas e especialmente os situacionistas experimentaram com o passeio diferentes percursos por periferias e lugares. Tema também presente nos anos sessenta e setenta, com as peregrinações pelos nâo lugares na América profunda levadas a cabo por Richard Long ou Robert Smithson – Hotel Palenque, Os monumentos de Passaic.
A ação de viajar supõe uma experiencia de procura, de encontro inclusivamente perdido. Num sentido amplo, a viagem realiza-se não só caminhando pela cidade, mas também pelo corredor de nossa casa. É o viajante interior, que refere Pessoa na sua Viagem.

Caminhar para não se cair, porque quiçá, o facto de caminhar é, em si mesmo, “uma queda controlada” – como menciona Manuela Moscoso no seu texto sobre Jiménez Landa aludindo ao ditado inglês Walking is controlled falling. Caminhar para desafiar a gravidade e evitar a queda, com o objectivo de encontrar um caminho mais adiante. Trajectos, ações e viagens que sempre estiveram presentes na história da arte como parte do processo existencial do criador. Nesta edição de Gerações, a ideia de viajar, deambular, passear e perder-se, para voltar ou não a encontrar-se, parece algo comum entre os artistas e, de alguma maneira, conecta os projectos seleccionados.
Assim, na sua trajectória e maneira de abordar os projectos, os artistas estão em contínuo movimento.

Publicado a 12 de Novembro de 2015

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I STOOD UP AND… NEVER SAT DOWN AGAIN

Tânia Ferrão, Daniela Fortuna, Laura Ferreira, Alexandre Alagoa, Débora Pequito, Inês Rego, Rogério Silva, Maria João Costa, Alexandre Murtinheira, Sara Reis, Carmen Esteves, Leonardo Ramos, Beatriz Bravo e Tamia Dellinger

Curadoria Pedro Cabral Santo e Victor Pinto da Fonseca

A Plataforma Revólver tem o prazer de apresentar a exposição I stood up and… never sat down again com a curadoria de Pedro Cabral Santo e Victor Pinto da Fonseca.

Decidido pelos recém-licenciados que nela participam, o título da exposição recupera para um plano de abstracção o sentido particular da mudança que a pintura Hotel Bedroom (1954) instaura na obra de Lucien Freud, nos termos em que o pintor a formulou a William Feaver: «My eyes were completely going mad, sitting down and not being able to move. Small brushes, fine canvas. Sitting down used to drive me more and more agitated. I felt I wanted to free myself from this way of working. Hotel Bedroom is the last painting where I was sitting down; when I stood up, I never sat down again».

É este movimento, que troca o estar sentado pelo estar de pé, que os finalistas da licenciatura em Arte Multimédia, do ano lectivo de 2014-2015, acolheram como desígnio. Porque é ele que, contrariando os conformismos e as conformidades, finalmente os liberta da sedentarização em que não se podem rever, por o seu tempo ser tanto o dos lugares desabrigados em que o mundo se tornou, como o da errância sem fim à vista, que deles faz os estrangeiros que, em qualquer parte, vivem a ameaça do afastamento de alguém ou de alguma coisa e, portanto, a iminência da abstracção.

Mas neste estar de pé inscreve-se também a primeira exigência do caminho – ou do estar a caminho – e a clausura numa essencial transitoriedade, que é a da impermanência das sombras e dos reflexos, geradora da primeira conjuntura das imagens. E não será por acaso que é precisamente a impermanência a informar a maioria das obras agora expostas. Como não será por acaso que, ainda na sua maioria e em diferentes patamares de nitidez, elas se estruturam em torno da presença velada ou desvelada do(s) corpo(s) que as habita(m). Corpos que associamos a dispositivos mnemónicos nos quais os lugares, os seres e as coisas existem nos hiatos abertos pela sobreposição de um antes e um depois como se, fora deles, só pudessem existir na brevidade dos interregnos.

Em Spectrum, Alexandre Alagôa amplia o mundo com a claustrofobia dos espectros retidos no outro lado das imagens, ou no avesso da disponibilidade dos ecrãs. Em Esta é a minha caixa, Alexandre Murtinheira faz da caixa uma passagem entre duas realidades formal e semanticamente distantes, e o suporte da dimensão irreal das aparições que surgem da insistente presença de um objecto esvaziado dos seus conteúdos funcionais. Beatriz Bravo, em …, encontra no sótão o pretexto para as fotografias de um imaginário fixado no tempo póstumo da utilidade das coisas. Com Passagem, Carmen Antunes Esteves faz coincidir a dimensão voyeurista do ver com o dispositivo perspéctico, fundador das imagens em perspectiva. Na animação Pós-Guerra, Daniela Fortuna aloja nas sombras que deslizam na penumbra ruinosa dos vazios, a memória anónima da guerra. Com Desconforto, Débora Pequito encena na inospitalidade dos lugares, a busca infindável da reconciliação com um lugar interior. Em Rua das Janelas Verdes, Inês Rego devolve-nos o trecho de uma rua de Lisboa, reescrita nos vários tempos de um habitar que a banda sonora arrasta para o presente. Em …, Leonardo Ramos confia ao obtuso das imagens os secretos vínculos que elas estabelecem com uma indecidível realidade. Em Sombro, Maria João Costa delega na silhueta a sua pertença à domesticidade de um lugar, desse modo concretizando-se na imagem como vestígio. Com Postais, Rogério Paulo da Silva acciona no observador o estranhamento da familiaridade resultante do confronto com a actividade das imagens. Dream Sequence é a imponderabilidade onírica das imagens que Sara Maçã edita para hipnotizar o observador. Livro efémero é o objecto ressonante de Tamia D., que contém nas qualidades fotossensíveis da sua matéria a fatalidade do seu apagamento. Obedecendo à proposta de ilustrar o capítulo «Sacrifício ao amor», do livro de Afonso Cruz, O Pintor debaixo do lava-loiças, lançada na unidade curricular de Ilustração Desenvolvimento I, leccionada pelo Professor Pedro Saraiva, Laura Ferreira e Tânia Ferrão apresentam dois livros de ilustrações que vão ao encontro das imagens sugeridas pelas palavras, aos quais Tânia Ferrão acrescenta uma animação em vídeo realizada a partir das imagens do seu livro.

Cansado da absorção nos pequenos gestos que, a curta distância, concretizavam os muitos detalhes da pintura, Lucien Freud decidiu pintar de pé e jamais se voltou a sentar. Devotadas à sua condição de vestígio, sombra ou reflexo, as obras presentes nesta exposição fecham o último acto de uma idade que termina e que, para quase todos, coincide com o primeiro acto de uma duração que começa. A todos peço que, à semelhança do que aconteceu com Freud, jamais cedam à tentação da cadeira e de tudo o que nela é sinónimo de passividade e imobilismo. E a todos agradeço, estendendo o agradecimento aos que no mesmo ano terminaram a licenciatura em Arte Multimédia e que, por lucidez ou falta de convicção – e há sempre um momento em que ambas são o nome com que diferentemente se designa a mesma circunstância – não participam na exposição.

Maria João Gamito

Sabendo de antemão o quão difícil se apresenta aos jovens criadores o contexto português, a Plataforma Revólver, e apesar de todas as dificuldades, tem conseguido proporcionar ao longo dos últimos anos uma excelente oportunidade no sentido em que estes possam mostrar com dignidade o seu trabalho à colectividade.

Da Pintura à Escultura, passando pelo Desenho até à videoinstalação, os jovens artistas são representantes, na primeira pessoa, do vasto e complexo “tecido” que representa, nos nossos dias, o património e legado, por um lado afecto à própria produção contemporânea e, por outro, na sua específica relação com o público, o mercado e as instituições. Ou seja, estamos a falar de artistas capazes de se adaptarem aos diferentes media que perfazem a natureza da riqueza expressiva e simultaneamente na capacidade de construir uma linguagem diversa e rica capaz de estabelecer um diálogo consistente com o seu próprio tempo. Como afirmava Paul Valery «Je n´aime pas les fantômes d´idées, les toutes perspectives. Les termes dont le sens se dérobe devant le regard de l´esprit. Je suis impatient des choses vagues».

Estas premissas foram responsáveis por tantos e tantos eventos que possibilitaram aos artistas emergentes o desempenho de um papel que acreditamos ser fundamental e decisivo para o futuro desta actividade que, diga-se de passagem, é sistematicamente ignorada por quem de direito.

O Curso de Arte e Multimédia da FBAUL representa na íntegra o que acabamos de afirmar – apresenta um conjunto de trabalhos oriundos do contexto escolar afectos à referida licenciatura. Assim, as obras, que fazem parte da presente mostra, abordam um vasto conjunto de problemáticas directa e indirectamente implicadas com a produção artística e seu legado histórico, onde toma lugar o propósito experimental, a par da combinação de meios técnicos, de novos formatos e materiais diversos e também referências culturais que permitem desencadear a reflexão em torno dos diferentes temas convocados.

A Plataforma Revólver funciona genuinamente para benefício público, operando um espaço independente, não lucrativo, de entrada gratuita.
Pedro Cabral Santo e Víctor Pinto da Fonseca

Publicado a 12 de Novembro de 2015

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Twist The Real

Inês Botelho, Julien Berthier, Michel Blazy, Cécile Chaput, João Maria Gusmão + Pedro Paiva, Ana Jotta, Elisa Pône, Alexandra Sá, Noé Sendas, Francisco Tropa e Jian-Xing Too

Curadoria Maëlle Dault

A Plataforma Revolver tem o prazer de apresentar a exposição Twist The Real com a curadoria de Maëlle Dault.

Twist the Real reúne artistas portugueses, artistas franceses e um artista belga na Pla¬taforma Revólver, em Lisboa. Através de um movimento de torção do real, cada uma das obras escolhidas assume um conhecimento empírico do modo como esse “real” funciona. Procedendo de gestos ínfimos, de deslocamentos regidos por uma forma de aleatório, de serendipidade, de combinações actualizáveis, de organizações inespe¬radas e poéticas, de laisser faire (não intervenção) ou de reactualizações contextuais, as obras propostas (instalações, fotografias, esculturas, obras de parede, filmes, ob¬jectos, elementos vivos) apropriam-se de materiais, objectos familiares, cujas utiliza¬ções estão sujeitas a uma distorção da sua própria finalidade ou utilização. Todas as obras partilham de um sentido agudo de experimentação, de singularidade e paradoxo, de uma relação com o espaço e a irrisão.
Twist the Real não pretende delimitar o campo operatório destas pesquisas múltiplas e complexas; em vez disso, a exposição organiza-se como uma paisagem mental onde a questão do real e a sua distorção se realiza nos vincos e dobras das obras apresentadas, através de uma alternância dialéctica que gera um misto de encantamento e desencanto.

Publicado a 10 de Setembro de 2015

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Mahala Blood

Ilidio Candja Candja

Curadoria Victor Pinto da Fonseca

A Plataforma Revólver tem o prazer de apresentar ‘Mahala Blood’ de Ilidio Candja Candja (n.1976, Maputo, Moçambique), a
primeira exposição de trabalhos do artista em Lisboa.
As pinturas deste jovem artista internacional constituem uma importante narrativa abstracta da turbulenta e problemática representação da sociedade actual, da exuberância do caos e da côr. Um novo e rigoroso campo de trabalho do artista.
A exposição ‘Mahala Blood’, Sacrificio em Vão, no dialecto changana do artista, é uma forte crítica das complexas
condições sociais e politicas do continente africano, que sacrificam a sociedade em troca de nada – Uns ganham a maioria
perde, na inquietude do artista.
Estas pinturas reflectem um trabalho complexo, uma fusão de tradiçoes creativas africanas e influências europeias, tensão
de diferentes influências na vida do artista; uma simbiose do cosmopolitismo pós colonial moçambicano contemporaneo e
das experiencias de Ilídio Candja enquanto residente em portugal, onde vive desde 2006.
Ilidio Candja ainda que não exorcise os problemas do seu tempo, procura concentrar-se no essencial, para poder continuar
a pintar sem que a ideia do lucro que domina a sociedade se entranhe nele, sem que o sistema se apudere das suas
capacidades fisicas e mentais.

Publicado a 10 de Setembro de 2015

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ISSO – IN ONE WAY OR ANOTHER

Amelie Bouvier, Mattia Denisse, Marjolijn Dijkman, Marcin Dudek, Filipe Felizardo, Benoit Felix, João Fonte Santa, Musa paradisiaca e Roeland Tweelinckx

Curadoria > Eduardo Matos

De uma maneira ou de outra o local, o espaço, a paisagem e o seu contexto cultural, físico e imaterial têm sido para artistas a forma/matéria do seu trabalho. É uma relação complexa já bem sinalizada no contexto da arte contemporânea, que cada um procura e que é sempre singular. Falamos da percepção do real e das relações que os objectos produzidos têm com este, falamos das circunstâncias em que as coisas nos são dadas a ver, a ressonância que se produz nessa experiência e a percepção que disso temos. Trata-se portanto, de trazer para o espaço comum e partilhável de uma exposição coletiva, diferentes abordagens.

Publicado a 10 de Setembro de 2015

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Imagem: Débora Cabral

ABSOLUTELY + The Pogo Collection_screenings

Pedro Cabral Santo >> Absolutely + The Pogo Collection_screenings

Curadoria > Victor Pinto da Fonseca + Ruy Otero

A Plataforma Revólver tem o prazer de apresentar Pedro Cabral Santo no Piso 1 do Edifício Transboavista. Absolutely integra uma selecção de obras na sua maioria produzidas para a exposição. Absolutely é parte de um tríptico de exposições que teve o seu início com Unconditionally no Colégio das Artes, em Coimbra, no ano de 2014, ficando por realizar Unforeseeable.

Em Absolutely, Pedro Cabral Santo está interessado em criar um ambiente onde envolve inúmeros meios e técnicas que, no seu conjunto, procuram imergir o espectador numa “espécie de deriva psico-geográfica”.

A exposição inclui instalação, pintura, objectos e vídeo. Pedro Cabral Santo vive entre Lisboa e Faro e lecciona na Universidade do Algarve.

“Dizem que Hegel decretou a morte da arte. De facto, no final da sua obra prevê, ou anuncia, uma morte que deriva de uma revolução. A arte morre porque se transforma em pensamento (ou em filosofia). Esta morte não é o fim, mas um novo começo em que a arte, conhecendo-se cada vez melhor, embarca numa viagem de autoconhecimento e de reflexão. A obra de Pedro Cabral Santo nesta exposição, pertence a um tríptico, é um processo em curso, assume, explicitamente, este papel de arte depois da arte, ou seja, de obras que se autorreferenciam, de exposições que funcionam num processo dialético cuja soma das partes será sempre maior que o todo.

As peças aqui apresentadas, ou melhor representadas, pois há na sua obra um persistente efeito cenográfico que promove a envolvência e que requer, do espectador, um estado de atenção elevado para que consiga perceber as referências e as interligações, utilizam todas as técnicas e suportes e funcionam como híbridos. Por outro lado, o lirismo das formas e da luz geram, por si mesmos, significados que tornam cada obra única, independentemente da sua relação com o conjunto. E este conjunto é composto pela soma das obras e da obra do autor que pratica o exercício da deriva, que busca, incessantemente, o efeito de mise en abîme.

A ideia de deriva psico-geográfica proposta pelo artista, ocorre de maneira natural na exposição que nos obriga a decidir os percursos, a parar ou a percorrer cada obra, num processo relacional que é, ao mesmo tempo, cultural e íntimo, porque o que o artista questiona, precisamente, é: o que resta do ser em meio aos gadgets que nos circundam e as redes que percorrermos e que, simultaneamente, nos atam?

12 obras que se complementam e que se repelem. Sobretudo que se pensam e que convocam os espectadores à refletir sobre a morte da arte e sobre a consequência deste facto na vida.”

Mirian Tavares

A exposição apresenta em paralelo uma série de projecções do colectivo Pogo Teatro,

www.pogo.pt

Publicado a 15 de Maio de 2015

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INSIDE OUTSIDE

Bárbara Fonte com José Barrias

A Plataforma Revólver tem o prazer de apresentar “Bárbara Fonte com José Barrias” no Piso 2 do Edifício Transboavista. “Inside Outside” integra uma selecção de obras na sua maioria produzidas para a exposição.

O Desenho assume-se como forma exploratória e como figura fértil de ideias e de corpo que pairam (de maneira agressiva, zelosa e vertiginosa) no acto do feminino/masculino/animal, da sexualidade e do religioso, transmeando campos do primitivo e do originário ser. O projeto artístico situa-se na leitura, identificação e edificação das variáveis que as questões ocorrentes propõem. Através de desenhos/acontecimentos imiscui-se a própria existência espiritual e racional humana (metaforicamente humana) nos discursos do carnal e do poético. O Desenho passa a ser coisa interior-exterior-interior impregnada de passagens (cavernas bíblicas) entre a matéria real gerada pelo tempo e eco e os vestígios (i)mortais da vida.

Bárbara Fonte

A matéria que favorece a substância desta minha exposição com Bárbara Fonte forma-se a partir de 3 razões, diferentes mas entrelaçadas entre si. A razão da sobrevivência interroga o corpo da memória e mistura-se com a razão da vivência que regista o corpo presente na esperança que ambas possam contribuir para o desenho de uma nova razão construtiva… Uma flanerie ao longo da história de algumas histórias da História, sempre em movimento, sempre idêntica, sempre diversa. Vestígios, sombras, aventuras, simulacros, repetições… Fios, linhas cruzadas, teias e manchas, ritos de passagem, paredes, fendas, aberturas, fechaduras, viagens. Memórias acumuladas em espaços transitivos. Sonhos sonhados, peregrinações temporais, encantos vividos e lúcidos enganos. Lágrimas, risos e sorrisos. Beleza purificada, sinais de fogo.

José Barrias

Publicado a 15 de Maio de 2015

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DEVIDO À CHUVA A REVOLUÇÃO FOI ADIADA

Curadoria > Patrícia Trindade

Ana Poço Dias, André Banha, Ângelo Ferreira de Sousa e Isabel Ribeiro, Carla Cruz, Cecília Corujo, João Cruz, João Fonte Santa, Mais Menos, Margarida Dias Coelho, Rodolfo Bispo, Rui Luiz, Sara & André, Teresa Cortez e Tiago Alexandre

“Para caracterizar os fenómenos do nosso tempo é necessário, em primeiro lugar, questionar o conceito de crise. Fala-se da crise da sociedade, da crise da democracia (…) Esses discursos lamentam o desinteresse dos cidadãos pela vida pública e imputam-no à deriva individualista dos sujeitos consumidores. Essas supostas chamadas à responsabilidade cidadã só têm, na verdade, um efeito: culpar os cidadãos para mais facilmente os prender ao jogo institucional que só consiste em selecionar, entre os membros da classe dominante, aqueles por quem os cidadãos preferirão abdicar do seu poder de agir.”
Jacques Rancière

Este projeto expositivo pretende traçar uma geografia nacional de perspetivas sobre questões prementes, num ano em que se comemoram quatro décadas de democracia e o regime democrático é, mais do que nunca, questionado. Portugal é percebido com um país com sérios problemas de memória e de justiça, onde os mesmos rodam na dança da cadeira do poder, enquanto os cidadãos, assistem aos seus direitos e garantias deixarem de o ser e às grandes conquistas sociais e laborais dos últimos quarenta anos serem sucessivamente postas em causa, quando não eliminadas sob a ameaça do programa de assistência financeira que impôs uma política agressiva de redução de rendimentos, aumento de impostos e de privatizações que despiram o país dos seus recursos naturais e estratégicos. As palavras “estabilidade”, “segurança” e “futuro” foram retiradas do nosso dicionário e foram substituídas por “inconstância”, “desconfiança” e “incerteza”. Vive-se num país onde parece não se perceber a importância do investimento na cultura como impulsionador de desenvolvimento do país, onde não se apoia dignamente a produção nacional, onde se minimiza a relevância da arte e da criação artística como processo de reflexão sobre a realidade e se diminui o papel do artista como questionador da sociedade e como agente de um pensamento crítico gerador de novas ideias e novas soluções.

Depois dos preocupantes resultados das eleições europeias, onde nem o proclamado descontentamento com as políticas seguidas pelo poder parece ter sido pretexto para ir às urnas deixar um voto de protesto e baixar os já históricos elevados níveis de abstenção e com as ideias extremistas a afirmarem-­se e a ganharem terreno em países como a França, a Alemanha, a Holanda ou a Grécia, é cada vez mais premente refletir sobre o futuro do nosso país e da União Europeia, onde a ameaça fascista ou neonazi aparece de novo como uma realidade possível e o desespero e a falta de soluções para a crise se aliam à ignorância e à xenofobia, bandeiras hasteadas sem vergonha pelos partidos nacionalistas.
Este projeto expositivo procura refletir um sentimento nacional, entre a procura da mudança e a inércia, entre a revolta e a resignação, num tempo em que a palavra se dissocia da ação. Em que o gesto foi substituído pela opinião. Hoje, mais que nunca, temos opiniões. Muitas. Elas inundam os media e o mundo digital. As redes sociais substituíram a rua e transformaram o nosso conceito de revolta: hoje, a luta faz-se no Facebook e no Twitter. Mas quando é que da sentença se passará à ação? Quando começará o verdadeiro movimento?
Devido à chuva, a revolução foi, mais uma vez, adiada, mas nós viemos para a rua gritar.

Patrícia Trindade


Vista da exposição “Devido à chuva a revolução foi adiada” | Imagem: Fabio Salvo

CULTURA
Os artistas são uns ingratos.
Desde quando é que é preciso subsídios para fazer arte? Agora os artistas são bons demais para passar fome? Acham-se melhores que o Van Gogh?
Melhores que o Camões? É por terem dois olhos e duas orelhas?
Os artistas não querem ser funcionários públicos. Não querem picar o ponto,
apresentar relatórios trimestrais.
O Governo não abandonou a cultura, privatizou-a.
Tirou-a das mãos gordurosas do Estado e disse aos artistas para bater punho.
“Artista que não sofre, não cria”. E o que dizer de um artista que abandona o seu trabalho porque se vê subitamente sem Mecenas? Não é um fogo que vos consome até conseguirem mostrar ao mundo como o veem? Quem corre por gosto não cansa, excepto aquele tipo da Maratona. Ele morreu, mas não foi por falta de apoio do Estado.
Não desesperem. Sabemos como o desmame da subsidiodependência custa, mas
vejam nisto uma oportunidade. Emigrem! Não é como se nós prestássemos atenção aos artistas até terem sucesso lá fora. Como podemos ter a certeza que temos permissão para gostar de uma obra sem a aprovação de um estrangeiro primeiro?
Graças a Deus pela crítica inglesa, norte-americana, alemã, do Liechtenstein, de São Marino e do Alto Volta, senão não sabíamos quem era a Paula Rego ou o João Salaviza ou o Manoel de Oliveira ou o Saramago.
Que se calem os críticos, a dizer que o Governo não tem educação, é inculto e está a sabotar a cultura porque os artistas fazem oposição com dinheiro público. Para quê dar prémios que os artistas se recusam a aceitar das mãos de ministros? Para quê dar-lhes dinheiro que eles vão esbanjar em protestos e manifestações?
Em instalações que não percebemos, mas que os assessores do sr. Secretário de Estado garantem que são a gozar com a gente séria do Governo. Eles não percebem muito de arte, dos cantos dos Lusíadas ou dos violinos de Chopin, mas sabem do que gostam.
Admitamos, se o governo quisesse mesmo calar a oposição artística, dava-lhes a única coisa que pediram até agora, dinheiro.
Mesmo que não haja dinheiro para dar aos artistas, mesmo que o país peça para os artistas adiantarem o seu trabalho e sejam julgados pelo mérito da sua obra, mesmo que seja postumamente, não será preciso ao menos algum dinheiro para manter os museus e galerias abertos?
Se o povo quisesse arte, ia ao museu, não ia ao Colombo*. Somos dos países da Europa que menos gasta no lazer e na cultura. Lemos menos, vemos menos filmes (legalmente pelo menos), vamos a menos museus.
O governo serve para dar ao povo o que ele quer, não o que ele precisa.
Nos Estados Unidos, mais dinheiro passou pelo Kickstarter para financiar projetos artísticos que pelo National Endowment for the Arts. Se quiséssemos mesmo arte,
financiávamo-la nós. Se não damos dinheiro às artes, é porque não as queremos e o governo tinha razão.
Se damos, o governo tinha razão e a arte pode ser financiada no privado.
Olhem para este Estado tão magro agora que cortaram as gorduras da cultura.
Preferiam que cortassem na educação? Na saúde? Na polícia? No exército?
Nos assessores? Nas PPP? Há mais beleza (e Estado) no buraco do BPN que na Vitória de Samotrácia.

Guilherme Trindade

* estou a ser injusto, mais gente deve ter visto o Warhol no Colombo que no Berardo.

Publicado a 18 de Setembro de 2014

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O MANIFESTO DA GRUTA

Curadoria > Les Cahiers Européens de l’Imaginaire


Lima de Freitas, Gilbert Durand, Francisco Ariztia, Pedro Batista, Elise de Castelbajac, Ângelo Encarnação, Carlos Gaspar, Julien Isoré e Anaïs Ysebaert

Em 2014, os Cahiers européens de l’imaginaire convidaram sociólogos, artistas e investigadores a debater a questão do falso, numa edição intitulada “Le Fake”. “O imaginário é um real mais real que o real”, afirma Gilbert Durand. Mas poderá a pintura, e as artes visuais, no sentido mais lato, ser mais real que a realidade? A história de amizade entre Gilbert Durand, filósofo francês e pai da antropologia do imaginário, e Lima de Freitas, pintor e escritor português poderá estar no cerne da questão. Assim, para responder a esta chamada e para prestar homenagem a esta amizade entre filosofia e pintura, entre França e Portugal, propõe-se aqui um encontro que reúne culturas, histórias, métodos de observação e gerações.

Publicado a 16 de Setembro de 2014

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