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TIME IS ON MY SIDE
INEZ TEIXEIRA
Inez Teixeira, da série Time is on my side, 2011, acrílico sobre tela, 110x250 cm

Inez Teixeira, da série Time is on my side, 2011, acrílico sobre tela, 110x250 cm

Inez Teixeira (1965). Vive e trabalha em Lisboa.
Licenciada em História de Arte, pela Faculdade de Ciências Sociais e Humanas / Universidade Nova de Lisboa.
Realizou exposições em Portugal, Cáceres, Madrid, Sevilha, Barcelona, Rio de Janeiro, Siena e Pádua e esteve recentemente em residência artística na Cité des Arts, Paris, a convite da Culturesfrance.
Está representada em diversas colecções institucionais (Fundação PMLJ; Colecção da Assembleia da República; Banco de Portugal; BES; Câmara Municipal de Lisboa; Portugal Telecom; José de Mello Saúde, S.A. Portucel, S.G.P.S; Oni, S.A.) e em colecções privadas em Portugal e no estrangeiro.
 

A força da contradição. Impossível de afirmar isto é isto, aquilo é aquilo. Todas as afirmações são e não são verdadeiras. O mesmo na pintura.

Com Time is on my side tentei retomar a tradição da pintura… em Constable, Courbet, Friedrich, Otto Runge, Fussli. 
Depois, percebi que a interpretação que fiz da paisagem, mais não era do que um pretexto… paisagens que parecem resistir a toda e qualquer intrusão, sem referências geográficas ou temporais, ampliando a possibilidade de significados… Um pretexto para chegar ao que existe de mais vasto, remoto, invulgar, impenetrável, indefinido, inalcançável, abismal, incompatível, num mundo vasto e misterioso como o universo, a angustia da natureza onde nos perdemos… o mundo interior de nós mesmos? O lado obscuro? O isolamento? A solidão?
Giordano Bruno defendia que a estrutura do pensamento humano corresponde à estrutura da natureza.

Em primeiro lugar há a imensa massa dos lugares imaginados. Talvez haja na “ordenação” desses espaços algo de concreto que se traduz, não seguindo as fórmulas de um realismo que não existe, mas seguindo uma espécie de miragem, numa paisagem guiada pelo desejo de contemplação, o “lugar” das distâncias incalculáveis e de proveniências desconhecidas. E será este um “lugar” de sombras ou de formas? A imagem dentro da imagem? Ou a duplicação da imagem? A imaginação imaginativa? A pintura dentro da pintura?

Time is on my side é questionamento e perseverança.

Gerhard Richter afirmou que uma pintura de Caspar David Friedrich não é algo do passado. O que pertence ao passado é o conjunto de circunstâncias que permitiram que ela fosse pintada, ideologias específicas, por exemplo. Cabe-nos assim transcender a ideologia. *

I.T.
Lisboa, Março 2011

 
*Gerhard Richter, “Letter to Jean-Christophe Ammann, February 1973”, in Gerhard Richter: The Daily Practice of Painting: Writings, 1962-1993, ed. Hans Ulrich Obrist, p.81

Publicado a 31 de Março de 2011

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Uma-Ideia-nova-declina-se-forçosamente

Ana Rito // David Luciano // Hugo Barata // Miguelangelo Veiga
Um projecto de Hugo Barata

«À parte disto – que é pouco – Nada»
Jacques Vaché, (1895-1919)

O projecto expositivo «Uma ideia nova declina-se forçosamente com uma definição inédita» sobrevém das leituras de uma série de autores letristas, de onde se sublinham Isidore Isou, Roland Sabatier ou Gil Wolman, onde se discute a prossecução do conceito de arte infinitesimal. Partindo do enunciado de Isou, redigido em 1956, a obra de arte infinitesimal está condenada, enquanto obra, a não poder ser criada ou materializada na realidade, mas apenas inferida e contemplada conceptualmente. A concepção isouiana tentava radicalmente erigir um sistema de pensamento e de criação que envolvesse todas as artes e toda a forma de conhecimento. No que concerne às artes visuais, a problemática da “arte-objecto” enquanto municiadora e veiculadora de um discurso estético (ainda que possamos pensar no conceptualismo linguístico-literalista de, por exemplo, Lawrence Wiener) relaciona-se com a arte “imaginária” ou “supertemporal” pensada por Isou, na medida em que se apresenta indefinidamente activa perante o observador a partir de um conjunto de signos e dispositivos continuamente deslocados, e sobre um suporte (qualquer que seja) incessantemente por vir.
Significa isto que a exposição «Uma ideia nova declina-se forçosamente com uma definição inédita» apresenta trabalhos de quatro artistas portugueses que definem aqui um posicionamento relativo a esta problemática numa perspectiva a-teórica, constitutiva de uma fragilidade e de um resvalamento operantes. A postura determinada por cada autor prende-se exclusivamente com os seus próprios processos terminológicos, assim como programas estéticos, explorando a noção de obra “abandonada ao futuro”, sempre presente mas inatingível.
Segundo um percurso pelas galerias da Plataforma Revólver, cada autor define a sua zona de intervenção com uma série de trabalhos realizados exclusivamente para esta exposição. Estes trabalhos expandem-se comentando os multíplices aspectos de uma “ideia”, na tentativa de argumentar que essa mesma ideia, génese do seu processo autoral, é uma norma impossível de estabilizar. O pretexto infinitesimal/imaginário procurou ser trabalhado por cada artista no prosseguimento exploratório do espaço do “estúdio” (leia-se aqui o plano de leitura onde todas as obras ainda são possíveis, logo já o são…) para sublinhar uma relação de ordem entre o possível e o real. Esta concepção do poder quasi incomensurável de recorrência, aponta sobre o real uma multiplicidade de pontos de vista dos quais se apresenta uma parte nesta exposição.
Ana Rito (Lisboa, 1978) apresenta “Stillness”, um projecto constituído por uma vídeo-instalação site-specific e duas fotografias. A artista continua as suas investigações acerca das possibilidades da imagem videográfica associada à performance enquanto material inicial e indicadora de um estado no qual o corpo é matéria transferível. Para Ana Rito, este corpo é o estado primordial a qualquer indicação da imagem-vídeo e, contrariando um pouco algumas propostas anteriores nas quais o gesto “coreográfico” das bailarinas definia o movimento do ser, em “Stilness” é a acalmia da performatividade exangue encapsulada no próprio espaço arquitectural que se impõe. Este espaço é activado pela estabilização de dois campos fotográficos a partir dos quais se constrói um triângulo definidor de uma continuação espacial à qual permanecemos sem acesso.
David Luciano (Lisboa, 1976) expõe a obra “Throw your own”. Neste projecto são apresentadas um conjunto de fotografias e uma instalação composta de uma série de esculturas e um vinil autocolante. No seguimento de trabalhos anteriores, carregados de um acentuado comentário político e social, David Luciano assinala um display visual que acentua o carácter desprendido e de reminiscências com o design industrial na construção de uma série de objectos dotados de uma especificidade funcional, agora apresentados enquanto marca.
A frase “Only The Best Stones Make The Greatest Revolutions” direcciona a auto-reflexividade para a economia e a política do próprio meio artístico, na medida em que um conjunto de pedras de calçada portuguesa são pintadas segundo uma gama de cores reminiscentes de Jeff Koons, tornadas literalmente armas de protesto.
Miguelangelo Veiga (Lisboa, 1974) parte da prática da pintura para realizar uma intervenção a partir das características arquitectónicas no espaço de exposição. “Isto não é uma paisagem // frente e verso” propõe uma interrupção de percurso, ainda que visual, criando uma barreira parasitária edificada a partir dos próprios suportes utilizados para pintar (a tela e a grade), que aqui são convocados como estruturas que reduzem as possibilidades de movimento do observador, e que o impelem a fabricar uma imagem mental da suposta “representação”. O vídeo que acompanha a instalação (fazendo parte integral da mesma) é neste momento o outro lado. A partir da sequência de descrições apresentadas em texto, o artista perfaz um deslocamento de tempo e espaço que parece encetar um diálogo com o conceito de visão/observação/vigilância naumaniano e que o artista já trabalhara anteriormente.
Hugo Barata (Lisboa, 1978) mostra “The Limits Of My Language Are The Limits Of My World”. Composta de uma série de esculturas, fotografias e de um painel onde se associam fotografia e desenho, esta instalação investiga o resvalar da escultura nas possibilidades do espaço. O processo que o artista tem vindo a traçar é baseado na associação de diferentes materiais e de objectos (alguns separados e escolhidos in situ) para a configuração de um dispositivo que associa a prática escultórica e alguns processos do conceptualismo, como a utilização da fotografia documental ou da reflexão sobre o tempo histórico. Os grandes edifícios de ideias, como a visão modernista na escultura “Não saberás nunca”, misturam sub-narrativas pessoais com combinações precárias que apontam um lugar de instabilidade e que se determinam pela contingência do nosso lugar no mundo.

Publicado a 25 de Março de 2011

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Bertrand Szymanski, Sem Título, 2010, Fotografia, Publicado em «Les Cahiers européens de l’imaginaire», ed. cnrs

Bertrand Szymanski, Sem Título, 2010, Fotografia, Publicado em «Les Cahiers européens de l’imaginaire», ed. cnrs

Bertrand Szymanski, Emilie Schalck, Gaëlle Scali, Rémy Russotto
Curadoria : Julien Isoré

« A vida é uma viagem, experimental, feita involuntariamente. É uma viagem do espírito através da matéria, e, como é o espírito que viaja, é nele que se vive. » Fernando Pessoa.

Artista plástico francês, Julien Isoré vive e trabalha em Lisboa. As suas investigações inclinam-se sobre o movimento e o desequilíbrio. Desenvolvendo a sua própria técnica de pintura a óleo, Julien propõe uma obra interactiva e conceptual sobre a noção de amor ocorrida em várias cidades como Bombaim, Paris, Los Angeles, Shanghai ou Nova Iorque, por exemplo. O artista propõe, numa terceira vertente do seu trabalho, um estudo de anatomia comparativa no CIEBA de Lisboa (Centro de investigação em Belas Artes), fonte de perguntas teóricas e de reflexões sobre o pensamento metafórico. Julien Isoré dirige o seu trabalho para um estudo do processo do imaginário.

Em colaboração com « les cahiers européens de l’imaginaire», ed. Cnrs Paris, e a Plataforma Revólver, Julien Isoré propõe uma experiência de exposição comparativa, para tentar se aproximar do princípio da imaginação. Experimentando a relação entre a percepção sensível, o imaginário e narração, Julien convida artistas a inclinarem-se sobre esta questão.

// Projecto Narração

A instalação de Gaëlle Scali e Emilie Schalck investe-se, no open space da Plataforma Revólver – piso3, para interrogar a construção do nosso imaginário perante uma pluralidade de sinais encenados. Os métodos são diversos e tomam formas sonoras, videográficas, picturais e espaciais (3D). Co-realizam o projecto The Look, Behind ? (Just Hearing and moving) para construir um sensorama, espécie de máquina da imaginação, que manipula com o sentido das imagens, os sons e as palavras no contexto das nossas memórias individuais e colectivas. Várias residências têm sido efectuadas no contexto desta primeira proposta.
Numa segunda sala do espaço, Bertrand Szymanski procura obsessivamente apreender a continuidade do tempo ou como as lembranças individuais sugerem um conjunto de fontes à imaginação. Bertrand propõe em “souvenirs latents” uma espécie de grande arquivo da sua vida e tenta libertar a poesia do momento.
Numa terceira sala do espaço, Rémy Russotto procura, pelo contrário, com “Paranoia”, substituir o sentido da imagem por uma proposta de interpretação paranóica em que reinventa totalmente a realidade a partir do que propõe.
Assim entre estas diferentes intervenções, tentar-se-á que se observe a essência do que guia estes processos de interpretações e que se apreenda uma forma de princípio narrativo.

Apresentação dos Artistas:

Gaëlle Scali (FR): Pintora, artista plástica e de som. Licenciada em Artes Plásticas (2009), vive e trabalha em Montpellier. Prossegue a investigação da memória tanto nos seus aspectos colectivos como individuais através do som, das palavras e da pintura. Gaëlle conta já com várias exposições no seu curriculum, principalmente na região de Montpellier.

Emilie Schalck (FR): Artista videasta e comissária. Licenciada em Artes Plásticas (2006), vive e trabalha em Paris. É membro da Associação Glassbox. Emilie reconstitui espaços ansiogénicos, empréstimos de documentos de arquivo, de cultura (s) ” bis” e escreve e realiza filmes. Explora 3D após diferentes investigações e trabalhos sobre B-movies e mais particularmente da história do cinema em geral e do cinema nas feiras. Emily tem sido objecto de várias publicações e conta com exposições colectivas e individuais principalmente em França, entre Estrasburgo, Montpellier e Paris.

Bertrand Szymanski  (FR): Fotógrafo, fotojornalista, vive em Orbais L’Abbaye (R.F.), trabalha entre Paris e a Bélgica. Desenvolve desde finais dos anos de 1990 fotografia de lembrança, testemunho dos momentos de vida e do mundo, uma espécie de frenesim da imagem, uma tomada de nota pictural perpétua e obsessiva que aumenta um comportamento maníaco levado a cabo sobre a memória do tempo. A sua obra traduz-se em instalações intimistas de tributo post mortem. Expões os seus trabalhos no Norte da França.

Rémy Russotto : Fotógrafo Belga, Suíço e Americano. Autodidacta, vive e trabalha em Bruxelas. Através de uma forma paranóica, explora o facto de como a fotografia não é assombrada pelo desaparecimento mas substitui um outro mundo. A sua fotografia oferece a possibilidade técnica, não de tirar o retrato do mundo, mas de ver como impõe o imaginário nas suas criações do espírito. O seu trabalho tem sido objecto de numerosas publicações, concursos e exposições, nomeadamente no Canadá, em França, em Espanha e na Bélgica.

Publicado a 25 de Março de 2011

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Publicado a 9 de Março de 2011